Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Feliz Natal!

Nós, do Centro Cultural Martha Watts, desejamos a todos um FELIZ NATAL e um PRÓSPERO ANO NOVO!


O Blog ficará um tempinho sem atualizações, pois temos que nos concentrar na higienização do acervo. O Centro Cultural também entra em férias a partir do dia 26 de dezembro e só reabre no início de fevereiro.

Em breve voltaremos com textos semanais!



BOAS FESTAS!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Julião, Nordeste, Revolução: A luta pela Reforma Agrária em Pernambuco

O livro da jornalista e socióloga Lêda Barreto “Julião-Nordeste-Revolução” faz parte do acervo João Chiarini e conta a história de Francisco Julião, um  advogado militante das ligas camponesas do agreste Pernambucano. Lutou incansavelmente ao longo de toda sua vida junto à SAPPP (Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco) e pela Reforma Agrária na região.

“Julião não é um político que descobriu a massa camponesa para marchar com ela – ele é a própria voz dessa população rural que atinge os 40 milhões, mais da metade do total demográfico do Brasil. Nascido no campo, conhecendo de perto as angústias dessa massa abandonada, Julião foi procurado como advogado pelos camponeses da primeira Liga para defender-lhes os interesses numa questão de terra.”

No livro, Julião fala sobre ser marxista e respeitar a mística do campesinato brasileiro:

“Sou um radical mas não sou um sectário, declara Julião a esta repórter. O radicalismo não é uma limitação. Por isso respeito o misticismo camponês. O brasileiro de um modo geral e especialmente o camponês é, antes de tudo, um místico. Quero explicar porque na verdade tenho o maior respeito a este traço da personalidade do brasileiro, apesar de ser marxista. Libertei-me do misticismo mas não vou impor ao povo meu materialismo. Devemos aceitar o povo como êle é. Levo às massas uma mensagem que até hoje não lhes fôra levada e chego a elas através dos instrumentos que já estão sedimentados na sua consciência. Assim é que a figura do Cristo, com o seu conteúdo místico, não fica diminuída por uma análise puramente humana. Vejo o Cristo, abstraindo-me do aspecto divino, como o homem que libertou o seu povo da opressão romana, utilizando processos revolucionários para o seu tempo. Foi um verdadeiro rebelde contra os poderosos. Onde foi buscar os seus apóstolos? Entre os mais humildes, os pescadores principalmente.”

O livro também traça um panorama econômico, político e social do Nordeste brasileiro do período (década de 1960).

Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo João Chiarini.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Projeto Jari - grilagem e desmatamento na Amazônia

O jornal “O Movimento” de 1979 denunciou o Projeto Jari, uma multinacional construída na Amazônia, na confluência entre o Rio Jari e Amazonas,  por Ludwig, um bilionário norte americano. Tudo em torno desse “projeto” de exploração de celulose se tornou suspeito, incluindo as declaradas relações de Ludwig com o regime ditatorial brasileiro.
“Venha mesmo para o nosso país, Mr Ludwig. O Brasil agora é um país seguro.” Com estas palavras o Marechal Castello Branco recebia em 1967 o milionário norte americano Daniel Ludwig, e lhe abria as portas do país, que é, segundo Otávio Ianni, ‘ uma das mais típicas manifestações da economia política da ditadura instalada no Brasil desde 1964.’’ As ligações políticas, econômicas e exploratórias de Ludwig iam desde relações próximas com Nixon até a fabricação de armas químicas durante a guerra do Vietnã. No entanto, seu império financeiro era proveniente do transporte de petróleo, da exploração de turismo e casas de jogos.

A primeira questão destacada na reportagem é que Ludwig se apropriou ilegalmente de mais de 3 milhões de hectares na Amazônia, um espaço três vezes maior do que ele tinha conseguido inicialmente. Além disso, tudo o que foi criado em torno da sua multinacional no Brasil era baseado na exploração de mão de obra barata e no não pagamento de impostos.
A reportagem detalha todos os segredos por trás do Projeto Jari e tem com fonte o livro “Projeto Jari: a invasão americana: as multinacionais estão saqueando a Amazônia”. Os autores são dois jornalistas e um professor da Fundação Getúlio Vargas: Jaime Sautchuk, Sérgio Buarque de Gusmão e Horácio Martins de Carvalho.
Para quem quiser se aprofundar mais no tema a matéria na íntegra está disponível para consulta aqui no Espaço Memória Piracicabana.

Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo jornal O Movimento.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aborto Clandestino em Piracicaba

Os motivos para uma mulher vir a optar por um aborto são muitos. Mas seja qual for, a decisão de induzir a morte do feto é perigosa porque pode custar também a vida da mãe. O desejo de não dar à luz ao filho que já estava com 2 a 3 meses de gestação, fez a jovem A.R. procurar uma parteira para praticar o ato, em março de 1945. A jovem, que tinha 21 anos, era de origem humilde e morava com o marido e seu filho de 3 anos no “bairro da Bimboca”, em Piracicaba.
Capa do processo

Segundo relatos de testemunhas, a “parteira prática” introduziu no corpo uterino da jovem uma sonda de borracha, a fim de provocar o aborto. Ao sair da consulta, a jovem A.R. encontrou a amiga A. B. no consultório, que esperava para ser atendida. As duas resolveram ir juntas para a casa, e no caminho, A. R. contou que já era a segunda vez que abortava com aquela parteira. 

O aborto, porém, não foi bem-sucedido. A jovem começou a passar mal e ter uma forte hemorragia, e ao invés de procurar um médico, resolveu procurar outra parteira. Chegando lá, a parteira injetou duas injeções de “Ergotina” na jovem, fazendo o feto ser expelido, junto com um pedaço de tubo de borracha (sonda que a primeira parteira havia introduzido) e uma mecha de algodão.
Os dias se passavam e a hemorragia aumentava. A.R. começou a adoecer cada vez mais e não estava conseguindo esconder suas dores. Dois médicos foram chamados para atendê-la, mas apenas um deles conseguiu identificar que ela havia sofrido um aborto induzido. Então, pressionada pela mãe e pelo marido, teve de contar o que havia acontecido. Ao saber do ocorrido, seu marido decidiu interná-la no hospital para que pudesse ser melhor medicada. No entanto, a hemorragia da jovem durou 20 dias e não houve melhoras. O óbito se deu naquela mesma noite. 
No processo, guardado no acervo do Fórum de Piracicaba, no Espaço Memória Piracicabana, há o depoimento de sete testemunhas. A primeira parteira, já havia sido processada por um crime de mesma natureza em 1939. No entanto, acabou ficando pouco menos de dois meses presa e foi solta pela justiça. Em depoimento para este caso à polícia, a parteira dizia não conhecer a jovem falecida. Com esse depoimento ela contrariava quatro das testemunhas que ouviram a jovem contar sobre o ocorrido. Disse também que nunca mais realizou aborto desde que foi processada e presa, seis anos antes. Já a segunda parteira confessou que atendeu a jovem, mas em sua defesa, colocava a culpa pela morte na primeira parteira, pois ela que havia introduzido a sonda no corpo da jovem. Antes que fossem julgadas, as duas tiveram a prisão preventiva decretada.

Thaís Passos da Cruz, estudante de Jornalismo da Unimep. 
Pesquisa realizada no acervo do Fórum. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Iconografias de Douglas Mayer: Brasil Negro

  A obra Brasil Negro de Antonio Messias Galdino é resultado de um compilado de 156 artigos publicados no Jornal de Piracicaba em 1988 em decorrência dos 100 anos da Lei Áurea. O livro Brasil Negro já foi objeto de análise no blog Espaço Memória Piracicabana, porém, neste artigo procuro demonstrar o diálogo entre as imagens de Douglas Mayer e os textos que deram origem ao livro de Antonio Messias Galdino. As ilustrações tem papel importante desta obra singular, que causa impacto e interpretações diversas, personificando os temas abordados nos artigos. 

 Com o título ‘‘Um povo sem história’’ o artista, através da imagem, representa a crítica que o texto de Galdino traz sobre o ‘apagar das raízes africanas.
‘‘Um povo sem raiz está solto no espaço, sem nenhuma ligação com o passado. A destruição dos documentos sobre a escravidão lançou os negros no espaço, impedindo a busca de suas raízes e conhecimento dos seus antepassados’’.





O texto ‘‘Brasil: um país de mestiços’’ nos dá dados históricos das etnias originárias da nossa sociedade atual. Tendo os povos africanos grande influência na cultura e ornamento social, porém sendo historicamente tratada como inferior mesmo após a abolição da escravidão essa situação não muda. “A influência da cultura negra está presente em todos os aspectos da vida brasileira, iniciada na própria formação étnica do povo brasileiro, através da miscigenação’’.



 No artigo publicado em 23/07/1988 ‘‘O negro é marginal na vida política”, Galdino elenca vários aspectos da representação negra na política nacional. Se as massas não têm consciência política e a maioria da população é composta por negros, logo os negros são usurpados de sua consciência política.  A representação do artista Mayer faz alusão ao voto não politizado que gera essa marginalidade política.



O livro destaca também a atuação do negro brasileiro no âmbito religioso, cultural e esportivo que, devido a essa diversidade, torna nossa cultura singular e rica. Segue a baixo as imagens representativas de Mayer:







Maycon Costa, aluno do quarto semestre do curso de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto.



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Santos Dias: mais um operário assassinado pela PM

No dia primeiro de novembro de 1979, o jornal O Diário, destacou a seguinte reportagem: “Culto pela morte de Santos”. Santos Dias da Silva era um operário, membro da Pastoral do Mundo do Trabalho, líder sindical e pai de duas crianças. Foi assassinado pelo policial Herculano Leonel no dia 30 de outubro em frente a uma metalúrgica na Zona Sul de São Paulo por volta das 14 horas. Sua morte teve comoção nacional e mais de 200 mil metalúrgicos acabaram aderindo à greve. Lideranças políticas e sindicais como Fernando Henrique Cardoso (membro do MDB) e Luis Inácio Lula da Silva (sindicato ABC) se posicionaram contra o assassinato.
            
O corpo de Santos ficou retido, mas com a grande mobilização e interferência dos sindicatos e parlamentares ele foi liberado. No dia seguinte a sua morte seu corpo foi velado na Igreja da Consolação e contou com a presença de mais de 10 mil pessoas que fizeram um cortejo da Praça da Sé até o Cemitério do Campo Grande, Zona Sul de São Paulo, onde seu corpo foi enterrado. Em Piracicaba na tarde do dia 31 de outubro os Sindicatos, Diretórios, Centros Acadêmicos e Associações diversas distribuíram convites para um culto ecumênico, no subsolo da Catedral de Santo Antônio, em memória do operário. No convite havia reivindicações como: a punição dos policiais que assassinavam os trabalhadores em defesa do Estado, o direito à greve, liberdade e autonomia sindical e o reajuste de salários.



Segundo o relato da esposa do operário, Ana Dias, no dia 29 de outubro, os metalúrgicos decretaram greve por melhores salários e condições de trabalho e se dirigiram após as 4 horas da manhã ao piquete[1] em frente da Fábrica Silvânia, no bairro de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Muitos companheiros, como Ana, ressaltaram que os trabalhadores deveriam ficar juntos, pois a polícia estava querendo deter quem se isolasse como já tinham feito anteriormente, detendo 343 operários do Comando da Greve.

Segundo relato de outras testemunhas, a polícia chegou com duas viaturas dando tiros para o alto, a fim de dispersar os trabalhadores. Em meio ao alvoroço, Santo Dias tentou resgatar um companheiro que estava sendo preso, porém acabou sendo atingido no abdômen por um tiro disparado pelo PM Leonel.

No dia 8 de abril de 1982 o policial Leonel foi condenado a seis anos de prisão pelo Conselho de Sentença da Primeira Auditoria Militar do Estado de São Paulo (o julgamento ocorreu de maneira “rápida” devido a grande pressão popular). No entanto, em 16 de dezembro de 1983, o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, devido à decisão unânime de quatro juízes, o réu foi absolvido. 

Ana Dias descreveu sobre este acontecimento: “Foi mais uma grande decepção. Mas não será o fim da minha luta por um mundo mais justo... Parar de lutar em defesa dos oprimidos seria fazer exatamente o que querem os que nos oprimem. Seria concordar com os que assassinaram o meu marido.” Depois de 25 anos após a morte de Santos, sua filha Luciana Dias da Silva publicou um livro “Santos Dias – Quando o Passado Se Transforma em História.”



Bibliografia 



[1] Quando os trabalhadores grevistas ficam na frente do local de trabalho convencendo os não grevistas a aderirem.

Ana Paula das Neves, aluna do 6º semestre de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do jornal O Diário.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Gemini IV: Guerra Fria e a corrida espacial

Em junho de 1965, a revista Fatos & Fotos fez uma reportagem sobre uma missão espacial da NASA, a Gemini  IV. Na década de 60, em plena Guerra Fria, a disputa espacial  entre União Soviética e Estados Unidos e quem pisaria na lua primeiro ficou acirrada. 


“O vôo da Gemini  IV e as experiências levadas a cabo em seus 4 dias de duração surpreenderam os expertos em corrida espacial. Com a saída de Leonov da cápsula, em março, a vantagem dos russos aparentava ser imensa, praticamente inalcançável a curto prazo, ou seja, antes da chegada à Lua. Mas a utilização de uma pistola-foguete orientando o passeio cósmico, a permanência no espaço por mais de três dias após o passeio, a permanência no espaço de dois homens durante o tempo teoricamente necessário para se chegar a Lua, a tentativa  de realizar o primeiro encontro orbital (embora não tenha sido realizado, mostrou o caminho para fazê-lo) e uma série  de outras vantagens de menor importância para o grande público colocaram os americanos  cabeça a cabeça com os soviéticos.”


As experiências com a Gemini tinham como prioridades testar, preparar e melhorar equipamentos para uma viagem à Lua, evento que ocorreu somente alguns anos depois, em 1969, com a missão Apolo 11.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Revista do Arquivo Municipal

Aqui no acervo temos uma extensa coleção de livros da Revista do Arquivo Municipal, publicados pelo Departamento de Cultura de São Paulo. São publicações das décadas de 1940,1950,1960,1970. Com temas dos mais variados como: folclore, história, política, economia.


Até artigos publicados por Chiarini podem ser encontrados nessa revista.




Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo João Chiarini.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Alma Cabocla de Setúbal

O livro “Alma Cabocla”, de Paulo Setúbal, é composto de vários poemas com linguagem simples de sua terra natal. Paulo Setúbal nasceu em 1893 na cidade de Tatuí e faleceu no ano de 1937 na cidade de São Paulo. Com quatro anos seu pai faleceu e sua mãe teve que cuidar dele e de seus oito irmãos sozinha. Por este motivo ela teve que começar a trabalhar e a única opção que encontrou foi deixá-lo em um internato. Lá ele começou a se interessar por literatura e filosofia e em 1935 entrou na Academia Brasileira de Letras. Exerceu diversas atividades, foi advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista.

            Temos no acervo duas edições deste livro Minha Alma Cabocla: a 4ª edição, na qual ele inicia com uma dedicatória a sua mãe e no final tem a nota dos editores da 2ªedição e a relação de outros livros que ele fez; e há a 6ªedição, nesta ele traz um novo capítulo intitulado de Poesia Inédita. Setúbal conta que fez esta poesia em uma festa de aniversário. Ele dividiu sua obra em 4 capítulos: Minha Terra (10 poesias); Morta de Rosas (12 poesias); Flocos de Espuma (13 poesias); e Sertanejas (5 poesias).
            No capítulo Minha Terra destaco a poesia Os Colonos. O poema trata os colonos de forma romantizada. Os trabalhadores são descritos como fortes e alegres quando separam os grãos do café, nela aparecem os imigrantes italianos e espanhóis. Já no capítulo Morta de Rosas a poesia Sob um pessegueiro, dedicada ‘ao Ademar, irmão e amigo’’ do autor, conta uma aventura que ele teve aos 15 anos, quando estava acompanhado de outra pessoa. Eles encontraram sozinhos uma árvore cheia de frutos e passarinhos e que devido, principalmente, ao cenário romântico terminaram em beijos e carícias de baixo da árvore. No capítulo Flocos de Espuma, a poesia Sinhá Anna, é sobre uma velhinha muito querida por todos. O poema fala sobre a saudade que sente dela e de algumas lembranças como do lugar em que ela vivia e que sempre lhe trazia broinhas fresquinhas. E no capítulo Sertanejas, a poesia Férias de junho, é sobre o regresso a terra natal, onde reencontra pessoas simples e caboclas. Para ele é um tempo que passa longe dos livros e estudos, sem se importar com as preocupações da vida cotidiana, um momento de fuga. Para finalizar, na 6ª edição a nova poesia Um Bebê, conta sobre a alegria de se ter um bebê em casa e descreve nela todos os detalhes sentimentais dessa experiência.
            A obra de Setúbal é fantástica, suas poesias são bastante descritivas, trazem uma linguagem fácil e fazem a imaginação do leitor viajar pela sua terra natal, como se realmente estivesse presente. O interessante em suas poesias é que ele sempre romantiza a vida no campo e apresenta a vida urbana como um lugar de preocupações e de caos, levando o leitor a impressão que se ele pudesse voltaria de vez para aquelas terras.

Ana Paula das Neves, aluna do 6º semestre de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto.



segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A propaganda no processo formador da sociedade

 Muitos dos nossos desejos e vontades são influenciados por propagandas comerciais, em TV, jornais, revistas. Quem nunca sentiu sede depois de um comercial de refrigerante, ou aquela fominha depois de passar por um outdoor na estrada? A tecnologia da última década tem mostrado a presença marcante de campanhas publicitárias em nosso cotidiano, a cada click uma marca ou serviço sendo oferecido.

           Assuntos antes vistos como tabus são retratados em comerciais de marcas famosas, caso recente são as roupas sem gênero específico, ou maquiagem para homens. No entanto, existem armadilhas. A propaganda pode ao mesmo tempo dar visibilidade para temas relevantes (nem sempre a marca realmente acredita e apoia minorias) como também pode reforçar estereótipos.


            Nas páginas da revista “Manchete” do ano de 1959 e 1964, podemos identificar muitas propagandas. É bom ressaltar que os principais leitores da revista Manchete eram mulheres da classe média brasileira, sendo assim o público alvo da publicidade, com os bens de consumo voltados a elas, ou que era considerado como sendo produtos para o público feminino. Os homens também são submetidos às propagandas, nas páginas vemos marcas fazendo a relação direta entre consumo e sucesso profissional.





Maycon Costa, discente do quarto semestre do curso de História UNIMEP.

Pesquisa realizada no acervo João Chiarini

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Ida Schalch – Uma das mulheres pioneiras na arte Piracicabana

Piracicaba tem uma rica história ligada às artes plásticas e tem o privilégio de ser casa de brilhantes artistas. No entanto, nos séculos passados, poucos deles eram mulheres, visto que se tratando daquela época, muitas não tinham espaço nem o porquê se dedicar à pintura como uma arte.

“[Ida] Ensinava pintura (...) Pintura como passatempo, menos do que arte. A moça do passado precisava conhecer algumas manualidades: a pintura, pugilar ao piano, bordar. Era uma vida simétrica, uniforme. Diziam que, com isso estava apta ao casamento”, dizia João Chiarini num texto em homenagem à ela no dia 12 de setembro de 1961, publicado na Folha de Piracicaba. 

Neste mesmo ano, Ida fazia 80 anos e se despedia de seu ateliê no Colégio Piracicabano, para se aposentar. Também pudera, já haviam se passado 40 anos ensinando pintura às alunas internas, profissão que amava desempenhar. Piracicaba e o colégio eram suas paisagens favoritas da artista para pincelar. 

Ela e suas duas irmãs estudaram no Colégio Piracicabano e se formaram professoras lá. Seu estudo da pintura começou apenas em 1911, depois de já formada, com Alípio Dutra. Quando ele teve de partir para a Europa estudar, Ida Schalch passou a ser aluna de Joaquim de Mattos. A parceria dos dois rendeu a considerada primeira exposição pública de pintura da cidade, ocorrida em julho de 1920, nos espaços da Universidade Popular.

A artista gostava muito de pintar flores e o cotidiano do Colégio. “Possui um colorido gostoso, autêntico puro (...) Com naturalismo, são significativos. Mas não só pinta flores, mas paisagens, casas e figuras. É arte imaculada mas não estilizada (...) Os seus assuntos são simples: são ela mesmo”, escreveu Chiarini.

Agora sua arte se encontra exposta embelezando os espaços do Centro Cultural Martha Watts, local onde está maior a parte de seu acervo e que guarda histórias dos anos bem vividos de Ida como professora de pintura no Colégio Piracicabano.

“Ida Schalch, mestra de gerações de anos do antigo Colégio Piracicabano, foi uma artista extremamente sensível e consciente de sua condição de mulher-artista numa sociedade ainda regulamentada pelos padrões masculinos” (FERREIRA, 1992, p.9)

Outras fontes:
- Livro “Memória, Encantamento e Beleza – Colégio Piracicabano, 125 anos” de Beatriz Vicentini Elias
- Site "A Província"


Thaís Passos da Cruz, estudante do curso de Jornalismo da UNIMEP. 
Pesquisa realizada no acervo O Diário.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Como desapareciam os mortos da tortura?


Em 1979 o jornal "O Movimento" começou a trazer temas que foram obscurecidos pela ditadura militar: como os policiais faziam para “sumir” com os torturados e mortos políticos.
A Comissão da Verdade, criada em 2011, conseguiu expor alguns dos algozes da Ditadura, no entanto, em 1979, criticar a polícia ou falar sobre desaparecidos políticos ainda era muito difícil. No final dos anos 70 ainda estávamos sob regime ditatorial, apesar de já conseguir mirar em um caminho de abertura política.


Para que tudo funcionasse de acordo, como uma cortina de fumaça, a polícia precisava de uma rede de apoio. Por conta da tortura ser legitimada pelo Estado, os assassinatos dentro de departamentos como o DOI-CODI eram comuns. Para poder “desaparecer” com os corpos sem ter que lidar com familiares e amigos buscando o paradeiro dos presos, a polícia construiu uma rede de trocas e favores, resquícios disso permanecem até os dias atuais.


Segundo a reportagem, foi criada uma conexão macabra entre PM e IML (Instituto Médico Legal), esta última fornecia atestados de óbito com informações totalmente desconexas com a realidade ao mesmo tempo em que servia de esconderijo dos corpos.

 “Em primeiro lugar, o Instituto é um poderoso fornecedor de atestados de óbitos. Graças a isto, por exemplo, é que Eduardo Leite, que usava o codinome “Bacuri”, pode ter sido entregue à sua família, em 1970, com a versão da morte em tiroteio. Sem essa máquina de atestados, como explicar o fato de Bacuri estar com os dois olhos vazados, as orelhas decepadas e todos os dentes arrancados?”.

Os chamados “cemitérios de repressão” como o de Perus, era um dos locais onde enterravam como indigentes e com nomes falsos os corpos de presos políticos.

Como era o esquema de ocultação de cadáveres?

“A polícia tomava conhecimento de um atropelamento com morte em algum ponto da cidade. Levava o cadáver do atropelado para o IML e lá o substituía pelo do preso morto. Convocava as testemunhas que viram de fato o atropelamento, o motorista que atropelou, e todas elas confirmavam honestamente. O morto era um desconhecido, enterrado como indigente.”

Essa era apenas uma das formas encontradas pela polícia para esconder as mortes sistemáticas que aconteciam nos porões das delegacias e casas de torturas.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo O Movimento.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Congresso da UNE em Piracicaba

No início da década de 80, Piracicaba já começava a reagir mais fortemente contra o golpe militar implantado no Brasil desde 1964. A vinda do 32º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em outubro de 1980, no campus Taquaral da UNIMEP, gerou repercussão internacional.


O reitor da UNIMEP na época, Elias Boaventura, foi um dos principais responsáveis pela iniciativa juntamente com o prefeito João Herrmann Neto, que gerou muito incentivo, mas também manifestações contrárias. Parte da Igreja Metodista era contra o apoio ao Congresso. Paralelamente, os católicos batiam palmas para a atitude. Além da coragem do patrocínio do evento, o ato ainda tinha um claro intuito de provocação e de desafio.
“Se pretendemos nos firmar como universidade alternativa e hoje já intranquilizamos a cidade, temos que caminhar para perturbar o Estado e incomodar o país”, afirmou Elias, que já lutava pela autonomia universitária da UNIMEP, em uma matéria do jornal O Diário, em setembro de 1980.

O reitor também chegou a ir até Brasília convidar o Ministro da Educação e o da Justiça para participar do evento, levando em conta que a UNE estava organizando nos dias 10, 11 e 12 de setembro, a Greve Geral dos Estudantes como um sinal de protesto para exigir do Governo Federal maiores recursos para o setor educacional no país. Na UNIMEP, os professores e alunos aderiram à greve, mas também discutiam uma paralisação interna devido a questões financeiras. Uma matéria publicada no mesmo mês, dizia que a ADUNIMEP não iria tolerar mais salários atrasados e se nada fosse regularizado, poderiam entrar em greve no mês de outubro, o que realmente ocorreu.

No dia 13 de setembro, um telefonema do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) dizia que várias bombas seriam explodidas na Universidade durante o Congresso. Na manchete do jornal O Diário do dia seguinte, se lia em letras garrafais “Ameaças não impedirão realização do Congresso da UNE”, e na matéria, a declaração de Elias Boaventura: “Para mim isso é brincadeira de mau gosto (...) Agora, se for sério o telefonema, a minha resposta é essa: o congresso vai ser realizado. Sou homem de fé e vou substituir essa sigla, CCC para Cristo Comanda a Caminhada”.


O momento era de grande importância para a UNE, que ainda atuava na ilegalidade desde o início do regime militar, quando sua sede foi incendiada a mando do governo e muitos dos estudantes ligados ao movimento sofriam com perseguições, torturas e até execuções. O presidente da UNE, Rui César Costa Silva, agradeceu publicamente no jornal o apoio e acolhimento oferecido pela UNIMEP, Prefeitura e pelo povo piracicabano.

Foram quatro dias de evento, que apesar das ameaças foi um sucesso e reuniu cerca de seis mil estudantes de vários cantos do país. Na abertura do Congresso, estiveram presentes o ex-presidente Lula, que na época ainda era metalúrgico e estava lançando o PT (Partidos dos Trabalhadores), e figuras populares da música brasileira no “Show da UNE”: Gonzaguinha, Elba Ramalho, Sá e Guarabira, João Bosco, Ivan Lins. Uma programação cultural também foi organizada na cidade para ocorrer em locais abertos e fechados com entrada franca.

Para alojar os congressistas, foram cedidos locais pela Prefeitura, UNIMEP e Esalq, e a Comissão de Alojamento ainda criou a campanha “Adote um Estudante”, que graças à população piracicabana foi um sucesso, pois muitas famílias se dispuseram a ajudar. A alimentação era garantida por muitas merendeiras e pelo restaurante da UNIMEP, que preparavam 8 mil refeições diárias para os estudantes, que segundo eles eram de ótima qualidade.

No dia seguinte do fim do Congresso, o Jornal “O Diário” trazia diversas matérias sobre o evento e seu saldo positivo, que foi considerado por muitos até então “o melhor Congresso da UNE”. O reitor da UNIMEP, Elias Boaventura foi ovacionado pela audácia de apoiar este evento em um momento político tão crítico e sob críticas da própria Igreja Metodista.
“A UNIMEP não aceita fazer o papel de uma universidade castrada. Ela vai utilizar toda a sua rebeldia dentro do espaço que lhe é hoje assegurado”, disse Boaventura ao jornal “O Diário”.



Thaís Passos da Cruz, estudante do curso de Jornalismo da UNIMEP. Pesquisa realizada no acervo do jornal O Diário.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Foice, faca e espeto: agressão entre vizinhas

No ano de 1922 chegou ao juízo de direito da Comarca de Piracicaba a denúncia de agressão entre vizinhas, processo que hoje compõe o acervo fórum. Na tarde do dia quatro de setembro, por volta das 15 horas de uma segunda-feira, Sebastiana Maria José de 40 anos, solteira, tendo por profissão serviços domésticos sem instrução escolar, armada com uma foice de mão, golpeou a cabeça de sua vizinha Angela Victoria Dias. Segundo testemunhas, já era antiga a desavença entre as duas mulheres.

Angela teria ido até a casa de Sebastiana armada com um espeto e teria forçado a porta. Uma vizinha notou a movimentação e avisou Sebastiana que Angela havia tentado entrar em sua casa e chamam a polícia. Nesse mesmo dia, Angela derruba então um muro provisório entre sua casa e a de Sebastiana e, ao entrar no quintal, avança em sua vizinha ameaçando-a com uma faca. Para se defender, Sebastiana pega uma foice e acerta a cabeça de Angela, causando um ferimento de três centímetros na região temporal.

A promotoria pública de Piracicaba abriu uma denúncia contra Sebastiana Maria José em dezembro do mesmo ano. A sua defesa então pediu absolvição, a partir da lei vigente na época, “tendo em consideração também que Angela Victoria Dias é uma mulher dada ao vício da embriaguez e rixosa por instincta, ao passo que a denunciada é uma mulher bem-quista de todos os vizinhos, pelo seu bom comportamento e bons costumes”.

No dia 22 de Janeiro de 1923 o Juiz de Direito Rafael Marques Cantinho declarou encerrado o caso: “De acordo, portanto, com os fundamentos produzidos pela denunciada em defesa [...] pela absolvição de Sebastiana Maria José pelo dirimente do Art. 32§2° do código penal”.  



Maycon Costa, aluno do quarto semestre do curso de História UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do Fórum.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mudança de Gênero

No acervo Jair Toledo Veiga, se encontra um manuscrito sobre uma autorização do Juiz da 7ª Vara da Família de São Paulo, Henrique Calandra, a um homem de 33 anos, o qual não teve sua identidade revelada, para a troca de seu nome e sexo.
O documento nos revela que naquele momento o Brasil não realizava este tipo de cirurgia. O governo brasileiro só vai autorizar oficialmente a cirurgia no ano de 2008.
Impossibilitado de fazer a cirurgia no Brasil, se deslocou então para a Suíça. Importante ressaltar que o próprio documento traz uma informação de como era visto este procedimento no Brasil: “homens que extirparam o pênis e passaram a dispor de uma ‘cavidade’ no lugar”.
           


            O documento traz mais informações como a do Juiz, da Vara de Registros Públicos de Porto Alegre, Osvaldo Peruffo, que desde o ano de 1986 enfrentou vários processos semelhantes.
            É interessante sublinhar que ao final o documento descreve que quando havia esta mudança de sexo, na certidão de nascimento da pessoa deveria se constar que o “Sexo Atual” era consequência de uma cirurgia. E há uma pequena reportagem que na América do Sul, no ano de 1991, estes procedimentos eram realizados na Colômbia, mas só se realizavam com autorização oficial ou em caso de pessoas hermafroditas.
            Como o documento informa sobre mudança de sexo, é importante não deixar de mencionar que entre os anos de 1926 a 1931 foi registrado o primeiro caso de mudança de gênero no mundo. Foi o caso de Lily Elbe, que ocorreu na Dinamarca com o artista Einar Wegener que mudara de sexo e de nome. A cirurgia a qual ela passou, na época, era classificada como um experimento. Devido a várias etapas deste experimento Lily acabou por falecer quando foi implantado um útero, ela morreu antes de completar 50 anos. Seu caso foi retratado no filme de 2016 "A Garota Dinamarquesa". 


Fontes:
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=vjq2FgjpXow - Trailer do filme A Garota Dinamarquesa


Ana Paula das Neves, estudante do 6º semestre do curso de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no Acervo Jair Toledo Veiga.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Carolina Maria de Jesus


Em uma matéria da revista Fatos & Fotos de 1966, Carolina de Jesus é entrevistada e questionada sobre o que aconteceu com a venda de seus livros. Ela tinha sido vista, naquele ano, catando papel e vivendo em extrema pobreza, mesmo depois de ter vendido milhões de livros (o aclamado “Quarto de Despejo”), que foi traduzido em 22 países e só no Brasil, até aquele momento, já tinha chegado a nove edições.


Carolina respondeu que editores alemães prometeram mais de Cr$ 6 milhões. Porém ficou esperando em vão e voltou a catar papel na rua por necessidade, pois não tinha dinheiro algum e precisava sustentar a família.



Com o pouco que ganho conseguiu comprar um pedaço de terra para plantar algumas coisas, mas mesmo assim passa necessidade. Segundo Carolina, “Aqui é o quarto de despejo. Pobre só pode oferecer a mão e a amizade.”



Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto e João Chiarini.