No
acervo do Jornal “O Movimento”, periódico de esquerda que circulou durante
parte do período de Regime Militar, é sempre presente críticas e denúncias de
abusos de poder cometidos pelos militares e pela força policial do país, abusos
esses intensificados durante o Regime Militar.
Porém, nesse texto, o que pode ser encontrado são depoimentos de vítimas da
repressão policial ocorrida durante o Estado Novo (1937 – 1945).
A
matéria trata-se de um compilado de trechos dos depoimentos de presos
torturados no período citado, depoimentos esses prestados a CPI de 1947 “que
pretendia, com seu trabalho, contribuir para que aqueles atos nunca mais se
repetissem”.
Os depoimentos são de seis militantes cujos nomes se tornaram alguns mais
conhecidos que os outros, e são eles: Olinto Semeraro, Carlos Marighella, que
em seu depoimento cita também o discurso de João Mangabeira, João Alves da
Mota, David Nasser e Luiz Carlos Prestes.
No
trecho do depoimento de Olinto Semeraro ele nos conta:
“Vi uma criança com três anos de idade,
e soube que um senhor Caruso era acusado, como integralista, de ter colocado
bombas na polícia central e estava desaparecido – exilado dizia-se – na
embaixada portuguesa. Um investigador perguntou à esposa de Caruso se sabia
onde estava seu marido. Como disse ela que não sabia, o investigador, apelidado
de Buck Jones, ameaçou queimar a criança com um charuto. Protestaram as pessoas
que se encontravam na sala (...) mas a ameaça foi levada a efeito (...)”
Em
outro trecho o jornalista David Nasser cita um depoimento tomado para seu livro
“Falta Alguém em Nuremberg”, depoimento dado pelo comandante do ataque
integralista ao Palácio da Guanabara em 1938, Severo Fournier:
“Fournier ficou em uma cela úmida, até que ficasse bastante gripado, depois foi
colocado num lote de tuberculosos que morreram meia hora antes, no mesmo
lençol, cheio de hemoptises etc. Contraiu então a tuberculose, na prisão.
(...)”
E ainda
finalizando a matéria temos o depoimento de Luiz Carlos Prestes, então senador
pelo Partido Comunista, ex-militar e líder da conhecida “Coluna Prestes”, onde
ele diz:
“(...) Eram operárias, inclusive
mulheres – pois ouvia os gritos pela janela do meu quarto, através do qual,
olhando enviesado, se percebia a garagem da Polícia. Ali todas as noites, desde
as 10 ou 11 horas até alta madrugada, às 2 ou 3 horas da manhã, se ouviam e
viam as mais degradantes cenas de espancamento, provocando gritos dolorosíssimos.
(...)”
Esse
e outros temas relacionados ao jornal “O Movimento” podem ser pesquisados no
acervo do Espaço Memória Piracicabana no Centro Cultural Martha Watts.
Guilherme Erler Pedrozo,
aluno do 3º Semestre de História da UNIMEP.
Pesquisa
realizada no acervo Jornal O Movimento.