Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Quintiliano

Em 1873, o Brasil ainda era um país que utilizava mão-de-obra escrava nas fazendas e casas de engenho. Os processos crimes presentes aqui no acervo do Espaço Memória conseguem nos mostrar alguns desses personagens e como era a relação entre escravo, fazendeiro e a força policial da época.


Quintiliano tinha 25 anos quando foi preso aqui em Piracicaba. No processo ele responde diversas perguntas feitas pelo delegado, e assim conseguimos entender um pouco mais sobre sua história e como foi parar na prisão da cidade (na época, a única prisão que existia ficava onde se encontra a atual E.E. Moraes Barros, no centro de Piracicaba). Quintiliano se identifica como solteiro, roceiro, natural de Barra Mansa, província do Rio de Janeiro, escravo de Luis Manoel da Silva (fazendeiro residente de “Moggy Mirim”) e que fugiu de Luis. Ao ser questionado qual motivo da fuga, Quintiliano respondeu que era constantemente maltratado por Luis e que não tinha suas datas religiosas respeitadas pelo fazendeiro.
O que podemos especular é que Quintiliano nasceu no Rio de Janeiro, provavelmente de pais que também eram escravos e já pequeno foi comprado como escravo ou levado com a família para a fazenda de Luis Manoel da Silva. Sobre esses detalhes Quintiliano não conta nada, mas suas marcas no corpo não o deixam esconder algumas informações de como era tratado pelo fazendeiro.


O delegado nota que todo o corpo de Quintiliano é marcado com cortes e cicatrizes e ao ser feito corpo de delito, ele explica como adquiriu essas marcas. A maioria delas foi feita com chicote e a que mais chamava atenção era a marca no rosto, provavelmente feita com ferro.
Quintiliano explica que a marca com ferro foi feita quando tinha cinco anos de idade por Luis Manoel da Silva assim que chegou a sua fazenda. Ele também diz que não só ele como todos os seus companheiros também foram “marcados” pelo fazendeiro.
“Respondeu que a marca que tem fora feita por seu senhor, Luis Manoel da Silva, a cinco para seis annos, e que foe feita com ferro; e que seu senhor fisera aquella marca não só a elle, como a seus companheiros afim de que quando quisessem fugir, pudessem ser reconhecidos.”
Quintiliano fugiu da fazenda de Luis em 1872 e desde então estava sendo procurado pelo fazendeiro. Assim que descobriu seu paradeiro, Luis enviou seu filho, Francisco da Silva, para trazer de volta Quintiliano à fazenda.
Detalhe do selo Imperial presente no processo com a imagem de D. Pedro II. Em 1873 o Brasil ainda era uma Monarquia e se intitulava como Império do Brasil. 

Piracicaba tem uma história intensa relacionada ao tráfico de escravos durante o século XIX e, se parar para pensar, não faz tanto tempo assim. Alguns processos nos contam que os escravos eram vendidos em praça pública e muitos personagens, hoje cultuados e transformados em heróis no imaginário piracicabano, também contribuíram com a exploração e a escravidão.  Uma história que nem sempre é contada nos livros da cidade, porém está registrada aqui no acervo do Fórum.

Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo do Fórum.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Folclore para crianças


Com a aproximação do mês do folclore, comemorado em agosto, não há acervo que o melhor represente do que o acervo João Chiarini, o fundador do Centro de Folclore de Piracicaba.

Como algumas publicações do blog do Espaço Memória já demonstraram, o acervo tem uma dimensão bastante significativa, com revistas, livros, recortes de jornais, correspondências, o acervo nos traz a cultura folclórica não apenas brasileira, mas de diversos outros países. O acervo possui obras não apenas voltadas para os adultos, mas também para o público infantil. Chiarini colecionou muitos livros ilustrados e de literatura infantil, como a coleção “Estórias e lendas do Brasil”, “Contos do Norte”, “Contos do Sul”, “Contos sertanejos”, “Contos da terra do ouro” e “Contos das selvas”.

Lendas como a do “O curupira”, “O negrinho do pastoreio”, “A caipora”, “O anhangüera” e “A vitória régia”, são apenas alguns dos  contos presentes na coleção.








Tatiane Saglietti, aluna do sexto semestre de História da Unimep.

Pesquisa realizada no acervo João Chiarini.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Nhô Quim é retratado em livro e exposição


Ainda em comemoração aos 65 anos da mascote que representa o E.C. XV de Novembro de Piracicaba, o Centro Cultural Martha Watts abre hoje (11), a partir das 19h30, a exposição “As Várias Faces do Nhô Quim”.
A mostra tem como objetivo retratar em diversas formas o famoso caipira de Piracicaba, através de diversos artistas piracicabanos: Eduardo Grosso, Erasmo Spadotto, Érico San Juan, Lucas Leibholz e Edson Rontani Junior.
Destaque também a Cícero Correa dos Santos, conhecido fotógrafo local, que se fantasiava de Nhô Quim nas disputas pela Lei de Acesso em 1967.
Nhô Quim faz parte da cultura piracicabana. Criado em 1949 pelo cartunista e publicitário Edson Rontani, diversos relatos afirmam que a mascote alvinegra surgiu - na época não havia sido ‘batizada’ – do cartunista do jornal “A Gazeta Esportiva”, Nino Borges. Porém, ao blog Acervos Históricos, o jornalista e filho de Rontani, Edson Rontani Junior, explicou que “foi o inverso”.
“De junho a dezembro de 48, meu pai pegava alguns desenhos feitos em cartolina e expunha no Challet Paulista. O Rocha Netto (em que seu acervo encontra-se no Espaço Memória Piracicabana, no Centro Cultural Martha Watts) que era representante da “A Gazeta Esportiva”, pegou um desses cartazes e levou para São Paulo, com a intenção de reaproveitar”, explicou.
Mas na época a qualidade técnica de impressão não era qualificada. Segundo o jornalista, o então editor-responsável do jornal, Thomaz Mazzoni, decidiu mostrar ao Nino Borges, na época ilustrador do matutino, para redesenhar. Então no dia 29 de janeiro de 1949, os traços foram publicados em um veículo de comunicação de grande massa.
“Isso, inclusive em vida, eu consultei o próprio Rocha Netto, ela dizia ‘Aconteceu exatamente isto’. Só que esta história mudou com o tempo. Como não tinha referência, todos diziam que saiu na ‘Gazeta’. Mas na realidade a ‘Gazeta’ é o comprovante de que saiu o Nhô Quim em um grande veículo de comunicação”, apontou Júnior.
Ele diz ainda, que os cartazes que Rontani fez “não estão guardados para a história”. “Então fica essa dúvida: Será que é verdade?”, disse.
O filho do publicitário contou também ao blog, que Rontani começou a desenhar o caipira, quando tinha apenas 15 anos de idade. E que durante seus quase 50 anos de traços, o fez apenas por hobby, sem receber valor monetário. “Saia do trabalho 17h30 (trabalhava na Secretaria da Agricultura), jantava e ia para o ‘espacinho’ dele”, descreveu.
As charges foram expressas em diversos jornais, como, “Jornal de Piracicaba” (1900-atualmente), “Diário de Piracicaba” (1935-1992), “A Gazeta Esportiva” (1947-2001) e “O Governador” (1933-1958).
De acordo com o ocupante da cadeira de número 50 do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores Piracicaba, cujo patrono é seu pai, Edson Junior assegura que o nome “Nhô Quim”, veio do amigo Rocha Netto. Em um livro escrito por Junior, lançado ano passado, cujo relançamento ocorre hoje (ver mais no texto abaixo), é citado uma entrevista de Netto ao Jornal de Piracicaba, vinculada no dia 16 de fevereiro de 2013. “Contei que era típico trocar a palavra senhor, por nhô; naquela época muita gente falava nhô Pedro, nhô Antônio, nhô João; então ele disse: Nhô Quim, como referência ao Senhor Quinze”, explicou à jornalista Adriana Ferezim.


Livro comemorativo é relançado

Além da exposição, o jornalista Edson Rontani Junior, relança hoje, também no Centro Cultural Martha Watts, no mesmo horário, seu o segundo livro, cujo lançamento ocorreu ano passado, durante o 40° Salão Internacional de Humor de Piracicaba. “Nhô Quim – A história que eu conheço”, aborda a história da mascote alvinegra, desde a criação até os dias atuais. Mostra também, suas variações ao longo do tempo, as características, e o conflito sobre quem criou o personagem.
Autor relança livro hoje às 19h30. (Foto: Reinaldo Diniz/CCMW)

“A intenção deste livro não é vangloriar-se de uma criação que se tornou um ícone de uma cidade. Queira ou não, o personagem retratado faz parte do imaginário coletivo de Piracicaba, passada uma década e meia após o falecimento daquele que expôs, por 48 anos, na mídia de Piracicaba sem ganhar um centavo. O que se pretende com estas linhas é dar mérito àqueles que criaram um personagem adorado por várias gerações, mas que o tempo e o avanço tecnológico proporcionaram confusões históricas”, citou o jornalista e também assessor de comunicação.
Charge publicada em 09/01/86, no Jornal de Piracicaba. Acervo Rocha Netto.CCMW/IEP.

Charge publicada em 05/01/1986, no Jornal de Piracicaba. Acervo Rocha Netto.CCMW/IEP.

A publicação têm 120 páginas, e o prefácio é assinado pelo radialista e atual Deputado Estadual, Roberto Morais (PPS), que também se auto intitula “quinzista”. “O Nhô Quim é a alma do Piracicabano. Representa o cidadão puro que viu o desenvolvimento urbano, comercial e industrial da cidade ao longo do século passado, assumindo sua versão cosmopolita como é Piracicaba hoje, agregando famílias provenientes de outras partes do país que aqui buscam um crescimento pessoal ou profissional. (...) Rontani se une a expoentes que personificaram o Nhô Quim ao longo destes 65 anos, como Almir Bortolassi, Manolo, Messias Mello e Nino Borges, entre outros”, cita no texto.
Na ocasião serão distribuídos gratuitamente 250 exemplares do livro.
Charges mostrarão a evolução do "Nnhô Quim".

Edson Rontani começou a desenhar com 15 anos de idade. Foto: Detalhe da exposição no CCMW.

Mostra ocorre no CCMW.


Conheça um pouco mais sobre a história do "Nhô Quim" e do livro no link a seguir:



Serviço - Exposição “As Várias Faces do Nhô Quim” e relançamento do livro “Nhô Quim - A história que eu conheço” de autoria de Edson Rontani Junior, hoje (11 de julho), às 19h30, no Centro Cultural Martha Watts (Rua Boa Morte, 1257 – Centro – Piracicaba/SP). Informações: www.unimep.br/ccmw ou (19) 3124-1889.


Reinaldo Diniz é aluno do terceiro semestre do curso de Jornalismo da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Não ao Parlamentarismo!



         No ano de 1962, o Jornal “Diário de Piracicaba” fez campanha para os brasileiros votarem “não” no plebiscito que visava manter o sistema de governo parlamentar instalado em 1961.
Parlamentarismo é um sistema de governo em que, diferentemente do presidencialismo, chefe de estado e chefe de governo são funções separadas. O primeiro apenas representa o Estado,  o segundo exerce o Poder Executivo e quem escolhe o Presidente é o Parlamento e não o povo.
Diário de Piracicaba - 16/12/1962

Diário de Piracicaba, 30/12/1962

O Parlamentarismo foi instalado no Brasil depois da renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, sendo assim o vice-presidente João Goulart deveria assumir o seu lugar. No entanto, Goulart estava em uma viagem a China e o próximo na linha de sucessão seria o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli, que acabou assumindo o cargo.  
Em setembro de 1961, através de uma manobra política do Congresso Nacional, foi implementado o Parlamentarismo e João Goulart foi empossado como Presidente, porém sem os mesmos poderes do cargo no presidencialismo, pois agora havia Primeiro Ministro que detinha o poder de governo.
Diário de Piracicaba, 23/12/1962

Diário de Piracicaba, 16/12/1962

O povo brasileiro mostrou sua insatisfação com o Parlamentarismo, houve recessão da economia no país e a situação se tornou insustentável. Sendo assim João Goulart criou um plebiscito que foi votado no dia 6 de janeiro de 1963, para que definitivamente fosse banido o Parlamentarismo. Doze milhões de brasileiros foram às urnas e 80% votaram a favor do presidencialismo que foi instituído novamente. Goulart foi empossado novamente como Presidente, ficando no poder até ser derrubado pelo golpe militar em 1964.




Tiago Favaris, aluno do sexto semestre de Sistemas de Informação.
Pesquisa realizada no acervo O Diário.