Em
1979 o jornal "O Movimento" começou a trazer temas que foram obscurecidos pela
ditadura militar: como os policiais faziam para “sumir” com os torturados e
mortos políticos.
A Comissão da Verdade, criada em 2011, conseguiu expor alguns dos algozes da
Ditadura, no entanto, em 1979, criticar a polícia ou falar sobre desaparecidos
políticos ainda era muito difícil. No final dos anos 70 ainda estávamos sob
regime ditatorial, apesar de já conseguir mirar em um caminho de abertura
política.
Para que tudo funcionasse de acordo, como uma cortina
de fumaça, a polícia precisava de uma rede de apoio. Por conta da tortura ser
legitimada pelo Estado, os assassinatos dentro de departamentos como o DOI-CODI
eram comuns. Para poder “desaparecer” com os corpos sem ter que lidar com
familiares e amigos buscando o paradeiro dos presos, a polícia construiu uma
rede de trocas e favores, resquícios disso permanecem até os dias atuais.
Segundo a reportagem, foi criada uma conexão
macabra entre PM e IML (Instituto Médico Legal), esta última fornecia atestados
de óbito com informações totalmente desconexas com a realidade ao mesmo tempo
em que servia de esconderijo dos corpos.
“Em
primeiro lugar, o Instituto é um poderoso fornecedor de atestados de óbitos.
Graças a isto, por exemplo, é que Eduardo Leite, que usava o codinome “Bacuri”,
pode ter sido entregue à sua família, em 1970, com a versão da morte em
tiroteio. Sem essa máquina de atestados, como explicar o fato de Bacuri estar
com os dois olhos vazados, as orelhas decepadas e todos os dentes arrancados?”.
Os
chamados “cemitérios de repressão” como o de Perus, era um dos locais onde enterravam como indigentes e com nomes falsos os
corpos de presos políticos.
Como
era o esquema de ocultação de cadáveres?
“A
polícia tomava conhecimento de um atropelamento com morte em algum ponto da
cidade. Levava o cadáver do atropelado para o IML e lá o substituía pelo do
preso morto. Convocava as testemunhas que viram de fato o atropelamento, o
motorista que atropelou, e todas elas confirmavam honestamente. O morto era um
desconhecido, enterrado como indigente.”
Essa
era apenas uma das formas encontradas pela polícia para esconder as mortes
sistemáticas que aconteciam nos porões das delegacias e casas de torturas.
Vivian
Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa
realizada no acervo O Movimento.