Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Como desapareciam os mortos da tortura?


Em 1979 o jornal "O Movimento" começou a trazer temas que foram obscurecidos pela ditadura militar: como os policiais faziam para “sumir” com os torturados e mortos políticos.
A Comissão da Verdade, criada em 2011, conseguiu expor alguns dos algozes da Ditadura, no entanto, em 1979, criticar a polícia ou falar sobre desaparecidos políticos ainda era muito difícil. No final dos anos 70 ainda estávamos sob regime ditatorial, apesar de já conseguir mirar em um caminho de abertura política.


Para que tudo funcionasse de acordo, como uma cortina de fumaça, a polícia precisava de uma rede de apoio. Por conta da tortura ser legitimada pelo Estado, os assassinatos dentro de departamentos como o DOI-CODI eram comuns. Para poder “desaparecer” com os corpos sem ter que lidar com familiares e amigos buscando o paradeiro dos presos, a polícia construiu uma rede de trocas e favores, resquícios disso permanecem até os dias atuais.


Segundo a reportagem, foi criada uma conexão macabra entre PM e IML (Instituto Médico Legal), esta última fornecia atestados de óbito com informações totalmente desconexas com a realidade ao mesmo tempo em que servia de esconderijo dos corpos.

 “Em primeiro lugar, o Instituto é um poderoso fornecedor de atestados de óbitos. Graças a isto, por exemplo, é que Eduardo Leite, que usava o codinome “Bacuri”, pode ter sido entregue à sua família, em 1970, com a versão da morte em tiroteio. Sem essa máquina de atestados, como explicar o fato de Bacuri estar com os dois olhos vazados, as orelhas decepadas e todos os dentes arrancados?”.

Os chamados “cemitérios de repressão” como o de Perus, era um dos locais onde enterravam como indigentes e com nomes falsos os corpos de presos políticos.

Como era o esquema de ocultação de cadáveres?

“A polícia tomava conhecimento de um atropelamento com morte em algum ponto da cidade. Levava o cadáver do atropelado para o IML e lá o substituía pelo do preso morto. Convocava as testemunhas que viram de fato o atropelamento, o motorista que atropelou, e todas elas confirmavam honestamente. O morto era um desconhecido, enterrado como indigente.”

Essa era apenas uma das formas encontradas pela polícia para esconder as mortes sistemáticas que aconteciam nos porões das delegacias e casas de torturas.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.

Pesquisa realizada no acervo O Movimento.

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