Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Muitos Lulas


(...) No cubículo mal iluminado, quatro operários falam de suas condições de vida, o papel de Lula e as vantagens do sindicato. O sergipano, baixinho e forte, cerca de 20 anos, cabelos curtos enrolados, é um dos que estiveram no ato de ocupação do sindicato, quando alguns milhares de operários puseram 8 viaturas policiais e o interventor para correr, na sexta-feira, 23 de março, um dia após o governo ter cassado a diretoria dos Metalúrgicos de São Bernardo. Ele – como uns 20% da categoria – ganha 13,26 cruzeiros por hora, 3.320 por mês, antes do dissídio de maio. “Tomei umas borrachadas, mas aprendi”, relembrava animado. “A gente pegava as bombas da polícia no ar e enfiava de volta nos filhos da gota”.


Em maio de 1979, o jornal Movimento fez uma matéria especial sobre os vinte anos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Na época, já haviam ocorrido cerca de 131 greves desde a posse do general Figueiredo e Lula era o grande expoente da militância operária do ABC.

“O sergipano conclui seus pensamentos: “A gente chama greve, mas o que é, é a união de todos nós. Mesmo o lula estando fora, o que ele fala nós fazemos. E se ele não fala nada nós fazemos por conta da gente”. O seu sentimento é comum por todo este vasto mundo de 200 mil metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, municípios onde se concentra a maior parte da classe operária que trabalha na grande indústria automobilística de São Paulo.”

A reportagem busca mostrar um pouco a história desses operários, do sindicato e, claro, de Lula. Interessados pela leitura, na íntegra, é só passar aqui no Espaço Memória Piracicabana.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo Jornal Movimento.



quarta-feira, 18 de abril de 2018

A Cultura Oral Presente No Lundu


O Espaço Memória Piracicabana, como já citado, abriga o acervo de João Chiarini, onde estão armazenados diversos materiais sobre folclore nacional e internacional. Vasculhando esse enorme acervo, encontrei um antigo Lundu, uma espécie de cantiga que foi enviada, por Francisco Oliveira Filho, com uma carta à Chiarini em 28/07/1976 para que ele pudesse “observar a influência do antigo escravo africano para alguma de suas pesquisas sobre o folclore nacional”.
“Lundu de Pai João”, provavelmente composto no século XIX, após 1837 (pela menção à Casa de Correção), já contém uma crítica à sociedade branca escravagista. Logo abaixo temos alguns trechos da cantiga onde podemos ver o personagem relatando situações de seu cotidiano enquanto escravo:


I
QUANDO IÔ TAVA NA MINHA TERA
IÔ CHAMAVA CAPITÃO,
CHEGA NA TERRA DIM BARANCO,
IÔ ME CHAMA – PAI JOÃO.
 (...)
V
BARANCO – DIZE QUANDO MÔRE
JEZUCRISSO QUE LEVOU,
E O PRETINHO QUANDO MÔRE
FOI CACHAXA QUE MATOU.
(...)
VIII
NOSSO PRETO FRUTA GARINHA
FRUTA SACO DE FEIJÃO
SINHÔ BARANCO QUANDO FRUTA
FRUTA PRATA E PATACÃO.
IX
NOSSO PRETO QUANDO FRUTA,
VAI PARÁ NA CORREÇÃO
SINHÔ BARANCO QUANDO FRUTA,
LOGO SAI SINHÔ BARÃO.


Pai João representa a figura central de um ciclo de histórias, contos e Lundus, coletados por folcloristas a partir do século XIX. O surgimento desse ciclo de tradições orais dessa figura nesse período da história brasileira se dá de um lado no contexto das lutas abolicionistas e dos debates da questão racial postos pela Abolição da Escravidão e, de outro lado, pela inauguração dos estudos folclóricos no Brasil, que se ocuparam em catalogar parte dessa cultura oral, como os Lundus, contos e cantigas de roda.
O personagem de Pai João em suas cantigas assume por vezes o perfil do escravo africano sofredor, submisso e resignado, frequentemente ingênuo e cheio de bondade, fiel ao seu senhor. Em outras ele encarna o escravo preguiçoso e lerdo, outras, ele é o escravo atrevido, esperto e vingativo.


Todo esse material pode ser consultado na íntegra aqui no Espaço Memória Piracicabana.
Natália Severino, aluna do quinto semestre do curso de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo João Chiarini.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Revista do XV


Em 1994, Maurício Cantoni (com ajuda de Rocha Netto) foi responsável por contar um pouco sobre a história do XV de Piracicaba na revista do clube.


Sobre o profissionalismo do XV, Cantoni escreve que:

“No amadorismo o XV ganhou quase todos os títulos do Campeonato da cidade de Piracicaba até o ano de 1946, quando também disputava os regionais. No entanto, a história do clube começou a se desenhar com linhas coloridas no dia 11 de março de 1947, quando o Conselho Deliberativo do XV aprovou seu ingresso na divisão profissional, como um dos fundadores do futebol remunerado do interior, contando com o fundamental apoio do presidente da Federação Paulista de Futebol, Roberto Gomes Pedrosa (goleiro da seleção brasileira de 1934). O alvinegro sagrou-se campeão deste certame, mas como em 1947 ainda não estava em vigor a Lei de Acesso, o clube teve de se contentar em ser apenas “o primeiro campeão profissional do interior do estado”. Presidido em 1948 por Gerolamo Ometto, o XV disputou o primeiro campeonato que dava acesso à divisão de elite do futebol paulista, atuando ao lado de 48 equipes do interior, distribuídas em 3 séries de 14. O alvinegro sagrou-se campeão da série preta com 14 pontos ganhos e enfrentou, nas eliminatórias entre os líderes, o Rio Pardense no Campo do Juventus, vencendo-o por 2 a 1, suplantando ainda o Linense no Parque Antártica pela elástica contagem de 5 a 1. O XV se tornou bicampeão profissional do interior com time inesquecível, composto por Ari, Elias, Idiarte, Cardoso, Strauss, Adolfinho, De Maria, Sato, Picolino, Gatão e Rabeca. O XV teve dois técnicos nesta temporada: Moacir de Moraes e Eugenio Vianni. Segundo o jornalista Delphim Ferreira da Rocha Netto, profundo conhecedor da história do clube, foi no ano seguinte que o alvinegro recebeu o apelido de “Nhô Quim’. Depois de conquistar o torneio início em 1949, passando por equipes tradicionais como Nacional, Palmeiras, Ipiranga e São Paulo o clube piracicabano conquistou grande respeito e prestígio na capital.”

Essa e outras histórias do XV de Piracicaba podem ser pesquisadas aqui no Espaço Memória.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo Rocha Netto.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Um Problema Humano


Na edição datada de 4 de agosto de 1969, o Jornal “O Diário” de Piracicaba trouxe a 3ª reportagem da série “Eles Seriam Delinquentes”. Entrevistas realizadas com profissionais das Varas de Infância e Adolescência discutiam quais eram as circunstâncias em que se encontravam os menores que chegavam até a assistência social da cidade. Nesta reportagem foram entrevistadas Célia M. G. de Oliveira, Assistente Social do Juizado de Menores e Lourdes A. R. Carvalho da Faculdade de Serviço Social de Piracicaba. Ambas discorreram acerca dos menores que encontravam nas condições de pedintes nas ruas.


As duas entrevistadas concordaram que, para chegar ao ponto onde esse menor se sujeita a prática de esmolar, é devido a problemas dentro de seu círculo familiar - quem deveria conceder à essa criança ou adolescente as garantias de subsistência. Por consequência sofre com as mazelas sociais, inserindo a criança, parte mais frágil dessa cadeia por estar em fase constante de formação de todas suas estruturas internas e externas, na única prática que sua inocência lhe permite: pedir.

Contudo, como explica Célia, mantê-los reclusos em um espaço onde a ociosidade e a discriminação imperam não lhes oferecendo nenhum outro caminho em que possam se manter fora dessa vida “ilícita”, não é a solução. Se levarmos em conta que essas crianças e jovens não tiveram bases familiares ou emocionais estáveis, nem detinham outras garantias de subsistência, como puní-los por fazer a única coisa que os mantinham vivos (pedir/roubar)? Como fazer esse jovem “mudar de vida” se essa é a única que  conhece e por consequência a única que considera possível dada sua condição? Lourdes, a partir de suas experiências, compreendeu que, antes de tudo, o problema desses menores era um problema humano. Não se consegue tratar uma criança se não tratar também da família desse indivíduo. É preciso compreender a criança e dar-lhe o afeto que necessita e ressalta que, todos que cuidam dos processos infantis devem perceber que esse indivíduo é uma criança.

Célia e Lourdes concluem falando sobre a necessidade de se resolver de fato o problema do menor e reafirmam que não é mantendo-o recluso como um prisioneiro que se resolve. Na verdade, origina-se de uma série de problemas sociais surgidos a partir das falhas estruturais da própria sociedade, e o único modo para saná-lo é com a colaboração de desta.

Todo esse material pode ser consultado aqui no Espaço Memória Piracicabana.
Natália Severino, aluna do quinto semestre do curso de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do Jornal “O Diário”.