Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

,

Pages

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aborto Clandestino em Piracicaba

Os motivos para uma mulher vir a optar por um aborto são muitos. Mas seja qual for, a decisão de induzir a morte do feto é perigosa porque pode custar também a vida da mãe. O desejo de não dar à luz ao filho que já estava com 2 a 3 meses de gestação, fez a jovem A.R. procurar uma parteira para praticar o ato, em março de 1945. A jovem, que tinha 21 anos, era de origem humilde e morava com o marido e seu filho de 3 anos no “bairro da Bimboca”, em Piracicaba.
Capa do processo

Segundo relatos de testemunhas, a “parteira prática” introduziu no corpo uterino da jovem uma sonda de borracha, a fim de provocar o aborto. Ao sair da consulta, a jovem A.R. encontrou a amiga A. B. no consultório, que esperava para ser atendida. As duas resolveram ir juntas para a casa, e no caminho, A. R. contou que já era a segunda vez que abortava com aquela parteira. 

O aborto, porém, não foi bem-sucedido. A jovem começou a passar mal e ter uma forte hemorragia, e ao invés de procurar um médico, resolveu procurar outra parteira. Chegando lá, a parteira injetou duas injeções de “Ergotina” na jovem, fazendo o feto ser expelido, junto com um pedaço de tubo de borracha (sonda que a primeira parteira havia introduzido) e uma mecha de algodão.
Os dias se passavam e a hemorragia aumentava. A.R. começou a adoecer cada vez mais e não estava conseguindo esconder suas dores. Dois médicos foram chamados para atendê-la, mas apenas um deles conseguiu identificar que ela havia sofrido um aborto induzido. Então, pressionada pela mãe e pelo marido, teve de contar o que havia acontecido. Ao saber do ocorrido, seu marido decidiu interná-la no hospital para que pudesse ser melhor medicada. No entanto, a hemorragia da jovem durou 20 dias e não houve melhoras. O óbito se deu naquela mesma noite. 
No processo, guardado no acervo do Fórum de Piracicaba, no Espaço Memória Piracicabana, há o depoimento de sete testemunhas. A primeira parteira, já havia sido processada por um crime de mesma natureza em 1939. No entanto, acabou ficando pouco menos de dois meses presa e foi solta pela justiça. Em depoimento para este caso à polícia, a parteira dizia não conhecer a jovem falecida. Com esse depoimento ela contrariava quatro das testemunhas que ouviram a jovem contar sobre o ocorrido. Disse também que nunca mais realizou aborto desde que foi processada e presa, seis anos antes. Já a segunda parteira confessou que atendeu a jovem, mas em sua defesa, colocava a culpa pela morte na primeira parteira, pois ela que havia introduzido a sonda no corpo da jovem. Antes que fossem julgadas, as duas tiveram a prisão preventiva decretada.

Thaís Passos da Cruz, estudante de Jornalismo da Unimep. 
Pesquisa realizada no acervo do Fórum. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário