No dia primeiro de novembro
de 1979, o jornal O Diário, destacou a seguinte reportagem: “Culto pela morte de Santos”. Santos
Dias da Silva era um operário, membro da Pastoral do Mundo do Trabalho, líder
sindical e pai de duas crianças. Foi assassinado pelo policial Herculano Leonel
no dia 30 de outubro em frente a uma metalúrgica na Zona Sul de São Paulo por
volta das 14 horas. Sua morte teve comoção nacional e mais de 200 mil
metalúrgicos acabaram aderindo à greve. Lideranças políticas e sindicais como
Fernando Henrique Cardoso (membro do MDB) e Luis Inácio Lula da Silva
(sindicato ABC) se posicionaram contra o assassinato.
O corpo de Santos ficou retido, mas com a grande mobilização
e interferência dos sindicatos e parlamentares ele foi liberado. No dia
seguinte a sua morte seu corpo foi velado na Igreja da Consolação e contou com
a presença de mais de 10 mil pessoas que fizeram um cortejo da Praça da Sé até
o Cemitério do Campo Grande, Zona Sul de São Paulo, onde seu corpo foi
enterrado. Em Piracicaba na tarde do dia 31 de outubro os Sindicatos, Diretórios,
Centros Acadêmicos e Associações diversas distribuíram convites para um culto
ecumênico, no subsolo da Catedral de Santo Antônio, em memória do operário. No convite
havia reivindicações como: a punição dos policiais que assassinavam os
trabalhadores em defesa do Estado, o direito à greve, liberdade e autonomia
sindical e o reajuste de salários.
Segundo o relato da esposa do operário, Ana Dias, no dia
29 de outubro, os metalúrgicos decretaram greve por melhores salários e
condições de trabalho e se dirigiram após as 4 horas da manhã ao piquete[1] em frente da Fábrica Silvânia, no bairro de Santo Amaro, Zona
Sul de São Paulo. Muitos companheiros, como Ana, ressaltaram que os
trabalhadores deveriam ficar juntos, pois a polícia estava querendo deter quem
se isolasse como já tinham feito anteriormente, detendo 343 operários do
Comando da Greve.
Segundo relato de outras testemunhas, a polícia
chegou com duas viaturas dando tiros para o alto, a fim de dispersar os
trabalhadores. Em meio ao alvoroço, Santo Dias tentou resgatar um companheiro
que estava sendo preso, porém acabou sendo atingido no abdômen por um tiro
disparado pelo PM Leonel.
No dia 8 de abril de
1982 o policial Leonel foi condenado a seis anos de prisão pelo Conselho de
Sentença da Primeira Auditoria Militar do Estado de São Paulo (o julgamento
ocorreu de maneira “rápida” devido a grande pressão popular). No entanto, em 16
de dezembro de 1983, o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo,
devido à decisão unânime de quatro juízes, o réu foi absolvido.
Ana Dias
descreveu sobre este acontecimento: “Foi mais uma grande decepção. Mas não será
o fim da minha luta por um mundo mais justo... Parar de lutar em defesa dos
oprimidos seria fazer exatamente o que querem os que nos oprimem. Seria
concordar com os que assassinaram o meu marido.” Depois de 25 anos após a morte
de Santos, sua filha Luciana Dias da Silva publicou um livro “Santos Dias – Quando o Passado Se
Transforma em História.”
Bibliografia
Disponível em <https://www.documentosrevelados.com.br/repressao/forcas-armadas/santo-dias-um-martir-da-luta-dos-trabalhadores/
Disponível em <
http://reporterbrasil.org.br/2007/11/santo-dias-uma-historia-de-vida-que-promete-nao-ser-esquecida/
Disponível em<http://www.esquerdadiario.com.br/Lutas-operarias-e-comissoes-de-fabrica-durante-a-decada-de-1970-em-Sao-Paulo
[1]
Quando os trabalhadores grevistas ficam na frente do local de trabalho
convencendo os não grevistas a aderirem.
Ana Paula das Neves, aluna do 6º semestre de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do jornal O Diário.
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