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segunda-feira, 17 de julho de 2017

A Ilha do Inferno – O maior massacre da história prisional do Brasil, depois do Carandiru

Há 65 anos, por volta das 8 da manhã do dia 20 de junho de 1952, cerca de 300 presos iniciavam uma rebelião no presídio “Colônia Correcional Ilha da Anchieta”, conhecido como Ilha do Inferno, em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo. Os amotinados atacaram os policiais de surpresa e conseguiram tomar as instalações da ilha, que só não foi incendiado e destruído completamente porque naquele dia havia cerca de 300 mulheres e crianças no prédio, que foram poupados pelos presos. Além de enfrentarem um tiroteio com os guardas, os detentos saquearam os 100 mil cruzeiros que estavam na tesouraria e os armamentos guardados na reserva de armas.

Para chegar até o continente, os presos roubaram pequenos barcos e lanchas que estavam na ilha. Uma das embarcações utilizadas, uma lancha chamada “Carneiro da Fonte”, com capacidade para cinquenta pessoas, partiu de lá levando mais de noventa presos. Por conta do excesso de peso, a lancha começou a afundar, o que iniciou uma luta por sobrevivência dentro dela. Muitos feridos foram jogados no mar e muitos foram mortos pelos próprios companheiros, para diminuir o volume de pessoas. Pereira Lima, um dos chefes do motim, assassinou com uma metralhadora cerca de trinta presos e logo em seguida os jogou no mar. Muitos dos que caíram da embarcação viraram comida de peixe. Segundo trecho da reportagem da revista Manchete de 5 de julho de 1952: “Finalmente o excedente da carga jazia nas águas ou no ventre dos tubarões e tintureiros em cardume na região (...) podendo assim a ‘Carneiro da Fonte’ chegar até o litoral”. 

A Marinha, Exército e Aeronáutica, além das forças policiais de São Paulo e Rio de Janeiro, se juntaram na busca pelos criminosos, em uma ação que durou vários dias. Seis dos 129 fugitivos nunca foram capturados.De acordo com a revista, a rebelião foi mais motivada pela vingança do que a liberdade. “Vingança dos maus tratos e do sistema desumano que reinavam naquele presídio”, como a desumanidade em que os presos eram submetidos e a péssima alimentação. Isso porque alguns guardas eram visados pelos criminosos e foram assassinados brutalmente, enquanto outros não.

Oficialmente, foram 16 mortos, entre guardas e presos, no entanto há boatos que dizem que morreram 108 prisioneiros no massacre, número nunca confirmado por fontes oficiais. “A maior tragédia dos presídios brasileiros”, conforme escrito pela revista Manchete em 1952, só foi superada 40 anos depois, no massacre do Carandiru, em 1992, com a morte de 111 detentos.
Dois anos após o massacre, o presídio foi desativado. Hoje o local está em ruínas e é preservado como relíquia histórica do Brasil, onde pode ser visitado por turistas.


Thaís Passos da Cruz, aluna do 5º semestre de Jornalismo da Unimep.
Pesquisa realizada no acervo João Chiarini.

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