Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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sexta-feira, 6 de março de 2015

Tiro acidental


Em 1865, Francisca, escrava de Francisco Correa de Godoy, foi morta por uma tiro de espingarda. No processo, as testemunhas, inclusive uma carta escrita e assinada pelo fazendeiro, tentam esclarecer o ocorrido.

Segundo os informantes, o crime aconteceu por pura casualidade. Adão, também escravo de Godoy, foi matar uma cascavel dentro da senzala. Lá, ele se armou de uma espingarda e, no meio da correria, Adão esbarrou a arma em uma porta, atirando sem querer em Francisca.  Muitas são as testemunhas, inclusive escravos.

De qualquer forma, o processo contém algumas lacunas. No começo, o fazendeiro e sua esposa, explicam que receberam Adão em sua casa e que ele avisou que havia encontrado uma cascavel dentro da senzala. Godoy pede para que Adão vá então matar a cascavel com um pau, e diz que não deu a espingarda, pois não tinha uma em casa. Nenhuma testemunha explica como uma espingarda foi parar na mão de Adão.

Outro detalhe que chama a atenção ao ler o processo é a forma preconceituosa como os agentes de polícia se referiam a Francisca, termos como “crioulinha”, “rapariga” são freqüentes no texto. Inclusive, o termo “crioulinha” foi usado pelos agentes, e talvez também pelas testemunhas, no lugar do nome da filha de Francisca, de seis anos. Francisca tinha entre 16 e 18 anos, assim como Adão.


Esses processos crimes são fontes de pesquisa riquíssimas para se entender o cotidiano e as relações de poder de uma Piracicaba que vivia do trabalho escravo e das grandes plantações de cana. Aqui, no Espaço Memória, temos mais de 13 mil processos que datam de 1801 a 1946.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracabana.
Pesquisa realizada no acervo do Fórum.

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