Em
1865, Francisca, escrava de Francisco Correa de Godoy, foi morta por uma tiro de espingarda.
No processo, as testemunhas, inclusive uma carta escrita e assinada pelo
fazendeiro, tentam esclarecer o ocorrido.
Segundo
os informantes, o crime aconteceu por pura casualidade. Adão, também escravo de
Godoy, foi matar uma cascavel dentro da senzala. Lá, ele se armou de uma
espingarda e, no meio da correria, Adão esbarrou a arma em uma porta, atirando
sem querer em Francisca. Muitas são as testemunhas, inclusive escravos.
De
qualquer forma, o processo contém algumas lacunas. No começo, o fazendeiro e
sua esposa, explicam que receberam Adão em sua casa e que ele avisou que havia
encontrado uma cascavel dentro da senzala. Godoy pede para que Adão vá então
matar a cascavel com um pau, e diz que não deu a espingarda, pois não tinha uma
em casa. Nenhuma testemunha explica como uma espingarda foi parar na mão de
Adão.
Outro
detalhe que chama a atenção ao ler o processo é a forma preconceituosa como os
agentes de polícia se referiam a Francisca, termos como “crioulinha”,
“rapariga” são freqüentes no texto. Inclusive, o termo “crioulinha” foi usado
pelos agentes, e talvez também pelas testemunhas, no lugar do nome da filha de
Francisca, de seis anos. Francisca tinha entre 16 e 18 anos, assim como Adão.
Esses
processos crimes são fontes de pesquisa riquíssimas para se entender o
cotidiano e as relações de poder de uma Piracicaba que vivia do trabalho escravo
e das grandes plantações de cana. Aqui, no Espaço Memória, temos mais de 13 mil
processos que datam de 1801 a 1946.
Vivian
Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracabana.
Pesquisa
realizada no acervo do Fórum.
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