Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

,

Pages

quarta-feira, 16 de junho de 2010

  Uma história e  um processo 
          Era 1904, o trato de casamento entre Benedicta e Camillo era conhecido. Até mesmo a vizinhança conhecia o trato, ainda mais quando, por vezes, viam Camillo visitando Benedicta em sua casa.
          As visitas freqüentes a casa de Benedicta faziam com que se acreditasse, cada vez mais, na promessa de casamento feita por Camillo. Com isso, passado 3 meses, o trato de casamento se mostrava “firmado”. Confiando em Camillo a mãe de Benedicta passou a permitir que passeassem a sós pelas ruas da cidade.
       Em um desses dias de passeio, Camillo teria “abusado do trato” e convidado Benedicta para ir em sua casa. Ameaçando romper o trato, Camillo “forçou” Benedicta ter com ele “relações ilícitas”.
    As relações se mantiveram de Dezembro à Janeiro, quando Benedicta, enfim, percebe que estava sendo enganada e então resolve dar queixa contra sua ‘desonra’. O exame de corpo delito, além de confirmar a ‘desonra’, detectou uma infecção originária de uma “cópula infectante”.  
    Acreditando na culpabilidade do réu, o “doutor juiz de direito” encarregado, manda que “qualquer oficial” se dirigisse a “qualquer parte desta comarca onde se pudesse encontrar o réu” e que o recolhesse à cadeia pública desta cidade.
    Histórias como esta aqui descrita se tornam referências fáceis, recorrentes no imaginário popular, sobretudo dos mais antigos.  Ouvindo tal história, não é difícil se lembrar das histórias contadas por “ouvirem dizer” dos mais vividos, das músicas caipiras, dos filmes que nossos pais assistiam, dos vários livros de romance... 
    Entretanto, a história de amor contada acima, não é fictícia. A história foi reconstruída a partir de um Processo-Crime de Defloramento do Tribunal Judiciário de Piracicaba. É com leitura difícil, com muito esforço durante o processo de pesquisa, que podemos reconstruir histórias assim, vividas por protagonistas do tempo passado. E, neste sentido, histórias iguais a essa podem ser emprestadas dos arquivos judiciários (que a tornou pública) para emergirem, enquanto fontes para uma pesquisa histórica, pois são, sobretudo, testemunho de uma época.  
    É fonte histórica para se entender tanto o jogo jurídico de tal época analisada, ou as relações entre os gêneros homem e mulher de Piracicaba, e outros infinitos ‘objetos’ de estudo que podem ter origem com ela. Mas, ai vem um alerta, não podemos ser simplistas e não se dar conta das várias versões de uma mesma história que pode estar presente em um mesmo processo. Pois não podemos descartar evidências que provam um mesmo acontecimento como experiência vivida e entendida de maneira diferente por pessoas diferentes. Não se trata de procurar o certo e o errado. Não existe, não existiu, e não existirá uma forma única e certa para as relações de amor e suas formas de amar.
ALLINE CRISTINA BASSO
06/06/2010

3 comentários:

  1. PARABENS AMOR!

    belissima pesquisa!
    belissima monografia!

    Parabens por tudo!
    e continue sempre assim!!!

    TE AMO!

    ResponderExcluir
  2. É Alline...não deve ter sido fácil ler esta história, com certeza precisou de muita dedicação. Os processos são realmente difíceis de entender, por isso não foi tão simples escrever este texto. É só pra quem pode mesmo!!!
    Parabéns pelo seu trabalho!!!

    ResponderExcluir