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terça-feira, 2 de abril de 2019

O Estado Militar


A militarização profunda no Estado Brasileiro

Texto de 1981 do Jornal Movimento


“Na semana que passou – dezessete anos após o golpe militar de 31 de março de 1964 – podia-se coletar, na leitura dos principais jornais brasileiros, as seguintes notícias: um operário que discursava na assembleia de 15 mil metalúrgicos em São Bernardo do Campo dizia que “no Brasil  o Exército só existe para massacrar os trabalhadores” e que “os militares que governam o país são capachos das multinacionais, que são nossos governantes de fato”;  banqueiros suíços revelam-se satisfeitos com a “orientação positiva dos militares brasileiros quanto aos investimentos estrangeiros”; o general Antonio Bandeira era nomeado para a chefia do Grupo Executivo da Política de Transportes (GEI-POT); uma reportagem revela que o SNI guarda em seu poder as fichas de 250 mil cidadãos brasileiros; um juiz auditor era guindado ao Superior Tribunal Militar, não em razão do seu “notável saber jurídico”, e sim, pelo fato de o seu curriculum vitae registrar uma medalha de Amigos da Marinha, dois elogios partidos de altas patentes militares e quatro conferências pronunciadas em quartéis; a SBPC preparava documento reivindicando a extinção das assessorias de segurança das Universidades. Ao lado dessas notícias , figurava uma anedota trágica: em Fortaleza, um suboficial das Forças Armadas, depois de quase ter atropelado um passante, resolveu puni-lo com um tapa e uma ordem de prisão.

Esses fatos isolados, se aproximados uns dos outros, indicam algo que é indispensável denunciar, nestes tempos de “abertura”: ou seja, que a ditadura militar brasileira não se reduz à presença de um governo militar ( o presidente e os seus ministros), nem à coexistência desequilibrada de um “Executivo forte” com um “Congresso forte”. Nesses últimos dezessete anos, não assistimos apenas à aparição do personagem “general-presidente” ou ao reforço do poder Executivo: muito mais que isso, fomos testemunhas de um amplo e profundo processo de militarização do conjunto do aparelho de Estado.”


A edição desse jornal procurou mostrar como o aparato do Estado brasileiro tinha se tornado altamente militarizado pós golpe de 1964. 

O acervo jornal Movimento pode ser pesquisado no Espaço Memória Piracicabana.



Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo jornal Movimento.


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