Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

,

Pages

segunda-feira, 19 de março de 2018

A neurose histérica como doença da pobreza


Na edição de junho de 1979 do jornal “Movimento” um texto intitulado “Histeria: Dramática resposta da operária” descreveu as relações das mulheres que trabalhavam na produção de castanha em Fortaleza com a crescente incidência de internações dessas mulheres por crises histéricas. Os psiquiatras Gilson Holanda e José Jackson Coelho, responsáveis pelos atendimentos de emergência da clínica psiquiátrica, contabilizaram num período de 30 dias que, de 125 castanheiras, 100 apresentaram o diagnóstico de neurose histérica e outras 18 apresentaram quadros de histeria associados a outros problemas como a depressão, ansiedade, etc.
Preocupados com tais dados, os médicos buscaram as razões por trás dessa “histeria coletiva” e, em um artigo publicado na revista de Psicologia “Radice”, descobriram que essas mulheres trabalhavam em condições exploratórias e insalubres, com jornadas de 10 horas por dia de trabalho, sem alimentação correta ou períodos para almoço, passavam todo o tempo em pé apoiadas apenas na perna esquerda, pois com a direita pedalavam a esteira onde as castanhas se acumulavam, passando todos os seus dias entregues a esse exercício robotizado.

A partir desses dados analisados puderam compreender que os diagnósticos da doença estavam intimamente ligados à situação de exploração em que essas mulheres se encontravam. Notaram também que tais sintomas iam muito além de uma questão de gênero, qualquer sujeito, homem ou mulher, que se encontrasse em uma situação degradante de subsistência se sujeitaria a tipos semelhantes de explorações trabalhistas, não por ignorância ou por desprezo à vida, mas para garantir sua sobrevivência. Os psiquiatras então concluem que: a situação psicológica dessas pacientes não se tratava de uma questão psiquiátrica, e sim um problema social: a pobreza.

Quem se interessar pelo material na íntegra pode vir consultá-lo aqui no Espaço Memória Piracicabana.
Natália Severino, aluna do quinto semestre do curso de História da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do Jornal Movimento.


Nenhum comentário:

Postar um comentário