Espaço MEMÓRIA PIRACICABANA

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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Theodoro


Em 1879, Theodoro, escravo, foi acusado de matar o seu senhor, o fazendeiro Antonio Fernando de Barros. Segundo testemunhas, “(...) depois de dividir a gente para o serviço, o assassinado Antonio Fernando ficou passeando na varanda, fronteira ao terreiro da casa, e quando voltava para o lado opposto, o referido escravo o assaltava pelas costas descarregando-lhe alguns golpes de fouçe* que o derrubaram(...)”
Outras testemunhas, confirmaram ter visto Theodoro correr com uma faca na mão, logo após o assassinato. Policarpo, uma dessas testemunhas e também escravo, ao ser questionado sobre o que teria motivado Theodoro a praticar tal crime, respondeu que “Theodoro não tinha cousa alguma à respeito, mas que parecia-lhe que este tinha assassinado seu senhor por este ter preso a mulher daquelle(...)”.




Quanto interrogado, Theodoro assumiu o crime: “(...) estando seu senhor passeando na sala, e ahi penetrou armado de uma fouçe e quando seu senhor voltou-se  de frente  para elle, deu-lhe uma fouçada na cabeça, e em seguida uma outra no braço e que cahindo aquelle deu-lhe elle, o interrogado, mais três fouçadas na cabeça(...)”. Theodoro também fala no processo que era surrado com freqüência por Antonio: “Disse mais, que depois de ter offendido o seu senhor que elle interrogado retirou-se até uma certa distância e que voltando dahi para a fazenda ao chegar comessarão a fechar as portas e janellas e que elle interrogado depois de ter dito que a ninguém mais queria fazer mal, pediu a chave do quarto viramundo* que sua senhora lhe mandou entregar, e depois de ter tirado sua mulher que ahi se achava veio com ela para esta cidade e que em caminho deitou para fora o viramundo que dela (sua esposa) também tirou”. A esposa de Theodoro se chamava Joanna e os dois tinham apenas 20 anos de idade.
Theodoro foi condenado a prisão e livramento.



Obs:
*Fouçe: Foice
*Viramundo: Instrumento de tortura onde o escravo era preso pelos pés, pulsos ou cabeça (as vezes pelos pés e pulsos ao mesmo tempo) e ficava assim por vários dias, privado de comida e água.


Vivian Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo do Fórum.

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