Na edição datada de 4 de agosto de 1969, o Jornal “O
Diário” de Piracicaba trouxe a 3ª reportagem da série “Eles Seriam
Delinquentes”. Entrevistas realizadas com profissionais das Varas de Infância e
Adolescência discutiam quais eram as circunstâncias em que se encontravam os menores
que chegavam até a assistência social da cidade. Nesta reportagem foram
entrevistadas Célia M. G. de Oliveira, Assistente Social do Juizado de Menores
e Lourdes A. R. Carvalho da Faculdade de Serviço Social de Piracicaba. Ambas
discorreram acerca dos menores que encontravam nas condições de pedintes nas
ruas.
As duas entrevistadas concordaram que, para chegar ao
ponto onde esse menor se sujeita a prática de esmolar, é devido a problemas
dentro de seu círculo familiar - quem deveria conceder à essa criança ou
adolescente as garantias de subsistência. Por consequência sofre com as mazelas
sociais, inserindo a criança, parte mais frágil dessa cadeia por estar em fase
constante de formação de todas suas estruturas internas e externas, na única
prática que sua inocência lhe permite: pedir.
Contudo, como explica Célia, mantê-los reclusos em um
espaço onde a ociosidade e a discriminação imperam não lhes oferecendo nenhum
outro caminho em que possam se manter fora dessa vida “ilícita”, não é a
solução. Se levarmos em conta que essas crianças e jovens não tiveram bases
familiares ou emocionais estáveis, nem detinham outras garantias de
subsistência, como puní-los por fazer a única coisa que os mantinham vivos
(pedir/roubar)? Como fazer esse jovem “mudar de vida” se essa é a única que conhece e por consequência a única que
considera possível dada sua condição? Lourdes, a partir de suas experiências, compreendeu que, antes de tudo, o problema desses menores era um problema
humano. Não se consegue tratar uma criança se não tratar também da família
desse indivíduo. É preciso compreender a criança e dar-lhe o afeto que
necessita e ressalta que, todos que cuidam dos processos infantis devem
perceber que esse indivíduo é uma criança.
Célia e Lourdes concluem falando sobre a necessidade de se resolver
de fato o problema do menor e reafirmam que não é mantendo-o recluso como um
prisioneiro que se resolve. Na verdade, origina-se de uma série de problemas
sociais surgidos a partir das falhas estruturais da própria sociedade, e o único
modo para saná-lo é com a colaboração de desta.
Todo esse material pode ser consultado aqui
no Espaço Memória Piracicabana.
Natália
Severino, aluna do quinto semestre do curso de História da
UNIMEP.
Pesquisa
realizada no acervo do Jornal “O Diário”.
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