No início da década de 80, Piracicaba já
começava a reagir mais fortemente contra o golpe militar implantado no Brasil
desde 1964. A vinda do 32º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em
outubro de 1980, no campus Taquaral da UNIMEP, gerou repercussão internacional.
O reitor da UNIMEP na época, Elias
Boaventura, foi um dos principais responsáveis pela iniciativa juntamente com o
prefeito João Herrmann Neto, que gerou muito incentivo, mas também
manifestações contrárias. Parte da Igreja Metodista era contra o apoio ao
Congresso. Paralelamente, os católicos batiam palmas para a atitude. Além da
coragem do patrocínio do evento, o ato ainda tinha um claro intuito de
provocação e de desafio.
“Se pretendemos nos firmar como
universidade alternativa e hoje já intranquilizamos a cidade, temos que
caminhar para perturbar o Estado e incomodar o país”, afirmou Elias, que já
lutava pela autonomia universitária da UNIMEP, em uma matéria do jornal O
Diário, em setembro de 1980.
O reitor também chegou a ir até Brasília
convidar o Ministro da Educação e o da Justiça para participar do evento,
levando em conta que a UNE estava organizando nos dias 10, 11 e 12 de setembro,
a Greve Geral dos Estudantes como um sinal de protesto para exigir do Governo Federal
maiores recursos para o setor educacional no país. Na UNIMEP, os professores e
alunos aderiram à greve, mas também discutiam uma paralisação interna devido a
questões financeiras. Uma matéria publicada no mesmo mês, dizia que a ADUNIMEP
não iria tolerar mais salários atrasados e se nada fosse regularizado, poderiam
entrar em greve no mês de outubro, o que realmente ocorreu.

No dia 13 de setembro, um telefonema do
CCC (Comando de Caça aos Comunistas) dizia que várias bombas seriam explodidas
na Universidade durante o Congresso. Na manchete do jornal O Diário do dia
seguinte, se lia em letras garrafais “Ameaças não impedirão realização do Congresso
da UNE”, e na matéria, a declaração de Elias Boaventura: “Para mim isso é
brincadeira de mau gosto (...) Agora, se for sério o telefonema, a minha
resposta é essa: o congresso vai ser realizado. Sou homem de fé e vou
substituir essa sigla, CCC para Cristo Comanda a Caminhada”.
O momento era de grande importância para
a UNE, que ainda atuava na ilegalidade desde o início do regime militar, quando
sua sede foi incendiada a mando do governo e muitos dos estudantes ligados ao
movimento sofriam com perseguições, torturas e até execuções. O presidente da
UNE, Rui César Costa Silva, agradeceu publicamente no jornal o apoio e
acolhimento oferecido pela UNIMEP, Prefeitura e pelo povo piracicabano.
Foram quatro dias de evento, que apesar
das ameaças foi um sucesso e reuniu cerca de seis mil estudantes de vários
cantos do país. Na abertura do Congresso, estiveram presentes o ex-presidente
Lula, que na época ainda era metalúrgico e estava lançando o PT (Partidos dos
Trabalhadores), e figuras populares da música brasileira no “Show da UNE”: Gonzaguinha,
Elba Ramalho, Sá e Guarabira, João Bosco, Ivan Lins. Uma programação cultural
também foi organizada na cidade para ocorrer em locais abertos e fechados com
entrada franca.
Para alojar os congressistas, foram
cedidos locais pela Prefeitura, UNIMEP e Esalq, e a Comissão de Alojamento
ainda criou a campanha “Adote um Estudante”, que graças à população
piracicabana foi um sucesso, pois muitas famílias se dispuseram a ajudar. A
alimentação era garantida por muitas merendeiras e pelo restaurante da UNIMEP,
que preparavam 8 mil refeições diárias para os estudantes, que segundo eles
eram de ótima qualidade.
No dia seguinte do fim do Congresso, o
Jornal “O Diário” trazia diversas matérias sobre o evento e seu saldo positivo,
que foi considerado por muitos até então “o melhor Congresso da UNE”. O reitor
da UNIMEP, Elias Boaventura foi ovacionado pela audácia de apoiar este evento
em um momento político tão crítico e sob críticas da própria Igreja Metodista.
“A UNIMEP não aceita fazer o papel de
uma universidade castrada. Ela vai utilizar toda a sua rebeldia dentro do
espaço que lhe é hoje assegurado”, disse Boaventura ao jornal “O Diário”.
Thaís
Passos da Cruz, estudante do curso de Jornalismo da UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do jornal O
Diário.