O
livro da jornalista e socióloga Lêda Barreto “Julião-Nordeste-Revolução” faz
parte do acervo João Chiarini e conta a história de Francisco Julião, um advogado militante das ligas camponesas do
agreste Pernambucano. Lutou incansavelmente ao longo de toda sua vida junto à
SAPPP (Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco) e pela
Reforma Agrária na região.
“Julião não é um político que descobriu a massa camponesa para marchar com ela – ele é a própria voz dessa população rural que atinge os 40 milhões, mais da metade do total demográfico do Brasil. Nascido no campo, conhecendo de perto as angústias dessa massa abandonada, Julião foi procurado como advogado pelos camponeses da primeira Liga para defender-lhes os interesses numa questão de terra.”
No livro,
Julião fala sobre ser marxista e respeitar a mística do campesinato brasileiro:
“Sou
um radical mas não sou um sectário, declara Julião a esta repórter. O radicalismo
não é uma limitação. Por isso respeito o misticismo camponês. O brasileiro de
um modo geral e especialmente o camponês é, antes de tudo, um místico. Quero explicar
porque na verdade tenho o maior respeito a este traço da personalidade do
brasileiro, apesar de ser marxista. Libertei-me do misticismo mas não vou impor
ao povo meu materialismo. Devemos aceitar o povo como êle é. Levo às massas uma
mensagem que até hoje não lhes fôra levada e chego a elas através dos
instrumentos que já estão sedimentados na sua consciência. Assim é que a figura
do Cristo, com o seu conteúdo místico, não fica diminuída por uma análise
puramente humana. Vejo o Cristo, abstraindo-me do aspecto divino, como o homem
que libertou o seu povo da opressão romana, utilizando processos
revolucionários para o seu tempo. Foi um verdadeiro rebelde contra os
poderosos. Onde foi buscar os seus apóstolos? Entre os mais humildes, os
pescadores principalmente.”
O livro também traça um panorama econômico, político e social do Nordeste brasileiro do período (década de 1960).
Vivian
Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa
realizada no acervo João Chiarini.
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