Os
motivos para uma mulher vir a optar por um aborto são muitos. Mas seja qual
for, a decisão de induzir a morte do feto é perigosa porque pode custar também
a vida da mãe. O desejo de não dar à luz ao filho que já estava com 2 a 3 meses
de gestação, fez a jovem A.R. procurar uma parteira para praticar o
ato, em março de 1945. A jovem, que tinha 21 anos, era de origem humilde e
morava com o marido e seu filho de 3 anos no “bairro da Bimboca”, em
Piracicaba.
Capa do processo |
Segundo
relatos de testemunhas, a “parteira prática” introduziu no corpo uterino da
jovem uma sonda de borracha, a fim de provocar o aborto. Ao sair da consulta, a
jovem A.R. encontrou a amiga A. B. no consultório, que esperava para
ser atendida. As duas resolveram ir juntas para a casa, e no caminho, A. R. contou que já era a segunda vez que abortava com aquela parteira.
O
aborto, porém, não foi bem-sucedido. A jovem começou a passar mal e ter uma
forte hemorragia, e ao invés de procurar um médico, resolveu procurar outra
parteira. Chegando lá, a parteira injetou duas injeções de
“Ergotina” na jovem, fazendo o feto ser expelido, junto com um pedaço de tubo
de borracha (sonda que a primeira parteira havia introduzido) e uma mecha de
algodão.
Os
dias se passavam e a hemorragia aumentava. A.R. começou a adoecer cada vez
mais e não estava conseguindo esconder suas dores. Dois médicos foram chamados
para atendê-la, mas apenas um deles conseguiu identificar que ela havia sofrido
um aborto induzido. Então, pressionada pela mãe e pelo marido, teve de
contar o que havia acontecido. Ao saber do ocorrido, seu marido decidiu interná-la no hospital para que pudesse ser melhor medicada.
No entanto, a hemorragia da jovem durou 20 dias e não houve melhoras. O óbito se deu naquela mesma noite.
Thaís Passos da Cruz, estudante de Jornalismo
da Unimep.
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