Na edição de junho de 1979 do jornal “Movimento” um texto
intitulado “Histeria: Dramática resposta da operária” descreveu as relações das
mulheres que trabalhavam na produção de castanha em Fortaleza com a crescente
incidência de internações dessas mulheres por crises histéricas. Os psiquiatras
Gilson Holanda e José Jackson Coelho, responsáveis pelos atendimentos de
emergência da clínica psiquiátrica, contabilizaram num período de 30 dias que,
de 125 castanheiras, 100 apresentaram o diagnóstico de neurose histérica e
outras 18 apresentaram quadros de histeria associados a outros problemas como a
depressão, ansiedade, etc.
Preocupados com tais dados, os médicos buscaram as razões
por trás dessa “histeria coletiva” e, em um artigo publicado na revista de
Psicologia “Radice”, descobriram que essas mulheres trabalhavam em condições
exploratórias e insalubres, com jornadas de 10 horas por dia de trabalho, sem
alimentação correta ou períodos para almoço, passavam todo o tempo em pé
apoiadas apenas na perna esquerda, pois com a direita pedalavam a esteira onde
as castanhas se acumulavam, passando todos os seus dias entregues a esse
exercício robotizado.
A partir desses dados
analisados puderam compreender que os diagnósticos da doença estavam
intimamente ligados à situação de exploração em que essas mulheres se
encontravam. Notaram também que tais sintomas iam muito além de uma questão de
gênero, qualquer sujeito, homem ou mulher, que se encontrasse
em uma situação degradante de subsistência se sujeitaria a tipos semelhantes de
explorações trabalhistas, não por ignorância ou por desprezo à vida, mas para
garantir sua sobrevivência. Os psiquiatras então concluem que: a situação psicológica
dessas pacientes não se tratava de uma questão psiquiátrica, e sim um problema
social: a pobreza.
Quem se interessar pelo material na íntegra pode
vir consultá-lo aqui no Espaço Memória Piracicabana.
Natália
Severino, aluna do quinto semestre do curso de História da
UNIMEP.
Pesquisa realizada no acervo do Jornal Movimento.
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