A
higienização do Espaço Memória já está finalizada (após um mês de trabalho
intenso no arquivo).
Toda
vez que higienizamos o acervo encontramos livros muito interessantes. É o caso
do acervo João Chiarini e as prateleiras com livros sobre história do Brasil.
Nela encontramos muitos livros sobre Brasil colônia, história de diversos
estados brasileiros, sobre independência do Brasil, movimentos revolucionários,
como, por exemplo, a Cabanagem.
O
livro presente no arquivo é datado de 1986, sendo a segunda edição do autor
(pesquisador e poeta) Pasquale Di Paolo. Di Paolo foi um professor de Ciência
Política da Universidade Federal do Pará, comprometido com os movimentos
sociais da região, atuava junto “ao homem amazônico”. Seu livro “Cabanagem: a
Revolução Popular da Amazônia” foi o primeiro livro a tratar o fenômeno social
como uma revolução, e não como uma revolta. Detalhe para o índice, que o autor
conclui seu estudo com o tema “A vitória dos Derrotados”.
Desse
capítulo, extraímos alguns trechos:
“Existem
duas óticas principais de ver a Cabanagem: para alguns ela é uma série de motins políticos dos cablocos paraenses,
cuja característica básica é a rebeldia contra o governo legal do Rio de
Janeiro, durante o período da Independência do Brasil; para outros, o movimento
cabano é uma rebelião das massas
populares amazônicas que não chegou a transformar-se em revolução por falta de
programa político e de quadro dirigente.
Nossa
tese é que a Cabanagem é revolução; é a
revolução popular mais importante da Amazônia e entre as mais significativas da
História do Brasil. Explodiu, depois da declaração de Independência, em 7
de janeiro de 1835, pela saturação da paciência cabocla diante da sistemática
do governo central em negar aos mais antigos habitantes da região o direito
elementar da “cidadania”.
Esgotados
os meios pacíficos de luta, a guerra civil tornou-se historicamente inevitável
pela miopia política da Regência e pela obstinação de seus ministros em
desrespeitar o próprio programa de independência do país. A Cabanagem é
revolução por ter sido um movimento histórico de conquista do poder pela base e
pelo vértice-não-dominante, caracterizado pela ruptura com os padrões vigentes
e pela abertura de novos horizontes políticos e sociais.”
Para
Di Paolo, a Cabanagem só pode ser entendida à luz do contexto histórico
internacional, nacional e regional do período. Movimentos como a Revolução
Francesa (1789), a Revolução Americana (1776), foram grandes fatores que
influenciaram.
“No
Brasil, o clima de dubiedade em que foi realizada a independência revelou uma
burguesia retrógrada e aristocratizada, sem carga revolucionária, culturalmente
amarrada a l´ancien régime; o novo
ideário político foi recebido mais pelas camadas médias e baixas da população,
provocando em todo país explosões revolucionárias de matizes populares.
A
Amazônia, no período colonial, vivera separada do resto do Brasil, formando o
Estado do Grão-Pará e Maranhão. Esta experiência de autonomia colonialista
produziu uma autonomia de luta anticolonial, também diante do emergente
colonialismo interno do sudeste brasileiro.
(...)
A doutrina básica dos cabanos era a independência política externa e a
emancipação social interna, decorrentes da consciência-de-ser-povo e da
consciência-de-ser-cidadãos, rejeitando ser súditos permanentes de
colonizadores eternos.”
O
livro está disponível para pesquisa no Espaço Memória. Parte da biblioteca do
acervo Chiarini pode ser pesquisada no site da UNIMEP.
Vivian
Monteiro, historiadora do Espaço Memória
Piracicabana.
Pesquisa
realizada no acervo João Chiarini
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