Em 1879, Theodoro, escravo, foi
acusado de matar o seu senhor, o fazendeiro Antonio Fernando de Barros. Segundo
testemunhas, “(...) depois de dividir a gente para o serviço, o assassinado
Antonio Fernando ficou passeando na varanda, fronteira ao terreiro da casa, e
quando voltava para o lado opposto, o referido escravo o assaltava pelas costas
descarregando-lhe alguns golpes de fouçe* que o derrubaram(...)”
Outras testemunhas, confirmaram ter
visto Theodoro correr com uma faca na mão, logo após o assassinato. Policarpo,
uma dessas testemunhas e também escravo, ao ser questionado sobre o que teria
motivado Theodoro a praticar tal crime, respondeu que “Theodoro não tinha cousa
alguma à respeito, mas que parecia-lhe que este tinha assassinado seu senhor
por este ter preso a mulher daquelle(...)”.
Quanto interrogado, Theodoro assumiu o
crime: “(...) estando seu senhor passeando na sala, e ahi penetrou armado de
uma fouçe e quando seu senhor voltou-se
de frente para elle, deu-lhe uma
fouçada na cabeça, e em seguida uma outra no braço e que cahindo aquelle
deu-lhe elle, o interrogado, mais três fouçadas na cabeça(...)”. Theodoro também
fala no processo que era surrado com freqüência por Antonio: “Disse mais, que depois de ter
offendido o seu senhor que elle interrogado retirou-se até uma certa distância
e que voltando dahi para a fazenda ao chegar comessarão a fechar as portas e
janellas e que elle interrogado depois de ter dito que a ninguém mais queria
fazer mal, pediu a chave do quarto viramundo* que sua senhora lhe mandou
entregar, e depois de ter tirado sua mulher que ahi se achava veio com ela para
esta cidade e que em caminho deitou para fora o viramundo que dela (sua esposa)
também tirou”. A esposa de Theodoro se chamava Joanna e os dois tinham apenas
20 anos de idade.
Theodoro foi condenado a prisão e
livramento.
Obs:
*Fouçe:
Foice
*Viramundo:
Instrumento de tortura onde o escravo era preso pelos pés, pulsos ou cabeça (as
vezes pelos pés e pulsos ao mesmo tempo) e ficava assim por vários dias,
privado de comida e água.
Vivian
Monteiro,
historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa realizada no acervo do Fórum.
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