A
militarização profunda no Estado Brasileiro
Texto
de 1981 do Jornal Movimento
“Na
semana que passou – dezessete anos após o golpe militar de 31 de março de 1964 –
podia-se coletar, na leitura dos principais jornais brasileiros, as seguintes
notícias: um operário que discursava na assembleia de 15 mil metalúrgicos em
São Bernardo do Campo dizia que “no Brasil
o Exército só existe para massacrar os trabalhadores” e que “os
militares que governam o país são capachos das multinacionais, que são nossos
governantes de fato”; banqueiros suíços
revelam-se satisfeitos com a “orientação positiva dos militares brasileiros
quanto aos investimentos estrangeiros”; o general Antonio Bandeira era nomeado
para a chefia do Grupo Executivo da Política de Transportes (GEI-POT); uma
reportagem revela que o SNI guarda em seu poder as fichas de 250 mil cidadãos
brasileiros; um juiz auditor era guindado ao Superior Tribunal Militar, não em
razão do seu “notável saber jurídico”, e sim, pelo fato de o seu curriculum
vitae registrar uma medalha de Amigos da Marinha, dois elogios partidos de
altas patentes militares e quatro conferências pronunciadas em quartéis; a SBPC
preparava documento reivindicando a extinção das assessorias de segurança das
Universidades. Ao lado dessas notícias , figurava uma anedota trágica: em
Fortaleza, um suboficial das Forças Armadas, depois de quase ter atropelado um
passante, resolveu puni-lo com um tapa e uma ordem de prisão.
Esses
fatos isolados, se aproximados uns dos outros, indicam algo que é indispensável
denunciar, nestes tempos de “abertura”: ou seja, que a ditadura militar
brasileira não se reduz à presença de um governo militar ( o presidente e os
seus ministros), nem à coexistência desequilibrada de um “Executivo forte” com
um “Congresso forte”. Nesses últimos dezessete anos, não assistimos apenas à
aparição do personagem “general-presidente” ou ao reforço do poder Executivo:
muito mais que isso, fomos testemunhas de um amplo e profundo processo de
militarização do conjunto do aparelho de Estado.”
A
edição desse jornal procurou mostrar como o aparato do Estado brasileiro tinha
se tornado altamente militarizado pós golpe de 1964.
O
acervo jornal Movimento pode ser pesquisado no Espaço Memória Piracicabana.
Vivian
Monteiro, historiadora do Espaço Memória Piracicabana.
Pesquisa
realizada no acervo jornal Movimento.
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