Há
65 anos, por volta das 8 da manhã do dia 20 de junho de 1952, cerca de 300
presos iniciavam uma rebelião no presídio “Colônia Correcional Ilha da
Anchieta”, conhecido como Ilha do Inferno, em Ubatuba, litoral norte do estado
de São Paulo. Os amotinados atacaram os policiais de surpresa e conseguiram
tomar as instalações da ilha, que só não foi incendiado e destruído
completamente porque naquele dia havia cerca de 300 mulheres e crianças no
prédio, que foram poupados pelos presos. Além de enfrentarem um tiroteio com os
guardas, os detentos saquearam os 100 mil cruzeiros que estavam na tesouraria e
os armamentos guardados na reserva de armas.

Para
chegar até o continente, os presos roubaram pequenos barcos e lanchas que
estavam na ilha. Uma das embarcações utilizadas, uma lancha chamada “Carneiro
da Fonte”, com capacidade para cinquenta pessoas, partiu de lá levando mais de
noventa presos. Por conta do excesso de peso, a lancha começou a afundar, o que
iniciou uma luta por sobrevivência dentro dela. Muitos feridos foram jogados no
mar e muitos foram mortos pelos próprios companheiros, para diminuir o volume
de pessoas. Pereira Lima, um dos chefes do motim, assassinou com uma
metralhadora cerca de trinta presos e logo em seguida os jogou no mar. Muitos
dos que caíram da embarcação viraram comida de peixe. Segundo trecho da
reportagem da revista Manchete de 5 de julho de 1952: “Finalmente o excedente
da carga jazia nas águas ou no ventre dos tubarões e tintureiros em cardume na
região (...) podendo assim a ‘Carneiro da Fonte’ chegar até o litoral”.

A Marinha,
Exército e Aeronáutica, além das forças policiais de São Paulo e Rio de
Janeiro, se juntaram na busca pelos criminosos, em uma ação que durou vários
dias. Seis dos 129 fugitivos nunca foram capturados.De acordo com a
revista, a rebelião foi mais motivada pela vingança do que a liberdade. “Vingança
dos maus tratos e do sistema desumano que reinavam naquele presídio”, como a
desumanidade em que os presos eram submetidos e a péssima alimentação. Isso
porque alguns guardas eram visados pelos criminosos e foram assassinados
brutalmente, enquanto outros não.
Oficialmente,
foram 16 mortos, entre guardas e presos, no entanto há boatos que dizem que
morreram 108 prisioneiros no massacre, número nunca confirmado por fontes
oficiais. “A maior tragédia dos presídios brasileiros”, conforme escrito pela
revista Manchete em 1952, só foi superada 40 anos depois, no massacre do
Carandiru, em 1992, com a morte de 111 detentos.
Dois
anos após o massacre, o presídio foi desativado. Hoje o local está em ruínas e
é preservado como relíquia histórica do Brasil, onde pode ser visitado por
turistas.
Thaís
Passos da Cruz, aluna do 5º semestre de Jornalismo da Unimep.
Pesquisa
realizada no acervo João Chiarini.